Decorreu, no dia 6 de agosto, o segundo dia do Comendatio Music Fest. Este festival dedicado ao prog, vai na sua 3ª edição.
Um risco e uma aventura da organização, mas que muita falta faz a Portugal. Ao chegarmos percebemos que estamos num festival com uma atmosfera familiar, de coletividade, em que todos se conhecem.
Já temos outros festivais especializados como o Extra Muralhas, sonoridades góticas e electrónicas, o Sonic Blast Doom, stoner rock e psicadélico, o Amplifest música mais extrema.
Mas dedicado ao prog na sua vertente mais pesada não existia.
Não podemos afirmar que seja do festival. Mas o facto de, este ano, terem ocorridos tantos concertos de prog, pode ou não ter sido influência do Comendatio. Mas uma coisa prova, há público para o progressivo.
A maior parte do progressivo de hoje em dia tem influências que vem do hardcore, no modo como cantam e também na utilização de breakdowns, os Monuments (que foram ao Vagos) são bons exemplos disso.
Nesta edição tivemos os Blaze the Trail, espanhóis, que jogam neste campeonato. Deram um concerto cheio de energia e o público não se fez rogado ao movimento.
Apesar dos 38 graus entraram com tudo, todos os elementos pulam e o público com eles. “Better men”, “Kill the system” e “When world collide” foram pontos altos com todos a mexer.
Mas antes da banda de Valladolid tivemos os heróis do dia: Twin Seeds e Apotheus.
Ninguém deveria ter que tocar com 42 graus, de frente para o sol, mas eles resistiram e deram bons concertos.
Com este calor só mesmo bandas lusas, andaluzes ou os Tinariwen aguentam.
Os Twin Seeds são uma banda de prog instrumental de Lisboa.
Na linha de uns night verses, god hates a coward ou For Giants, deram início ao dia com um bom som. O palco, engalanado com guaxinins, punha um sorriso em toda a gente.
Quando a música tem qualidade o interesse mantém-se e eles souberam, juntamente com a comunicação com o público, manter o interesse das pessoas que se amontoavam nas sombras ou debaixo das oliveiras (quais ovelhas no prado).
Uma banda muito interessante que vai dar o próximo concerto, gratuito, na Fábrica das Alternativas, em Algés, a 14 de Outubro.
Apotheus
São uma banda mais experiente. Já conta com três discos de originais, sendo o mais recente Ergo Atlas.
Tocaram “Redshift” e “Unification project” do disco novo. Muitas palmas e participação do público apesar do calor. Algo que os próprios reconheceram.
A música é um prog power que em partes inclui o gutural. O que só demonstra a versatilidade de Miguel Andrade, o vocalista e guitarrista.
Como seria de esperar de uma banda de prog, são excelentes executantes. “A new beginning” do disco anterior, “Far Star”, encerrou o concerto. Mais uma boa banda nacional.
Depois da energia dos Blaze the trail, fomos para algo mais lento: os Playgrounded.
Menos pesados, mas igualmente intensos, aqui o ritmo anda mais pelo doom com muita eletrónica.
“The swan” lançou um concerto acompanhado com interesse pelo público que já começava a resistir ao calor. Sem a exuberância de palco dos anteriores, conseguiram bons momentos em “Rituals” e “The death of Death”.
Unprocessed
Muito público e fãs confessos da banda para os ver.
Na apresentação ficámos a saber que o vocalista e guitarrista, Manuel Gardner Fernandes, tem ascendência portuguesa. Facto que fez questão de mostrar ao usar o uniforme da seleção nacional.
Isto levou a que o público gritasse muito o “Simmm” do Ronaldo, entre quase todas as canções como forma de palmas.
Quase 150 000 ouvintes no spotify, já não estamos a falar de uma banda pequena. Mas são fabulosos ao vivo. É como se os Polyphia tivessem voz. Seria a evolução natural.
A destreza musical ficou bem demonstrada em quase todas as músicas mas títulos como “Rain”, “Real” e “Fear” foram pontos altos.
Terminaram com “Haven” e crowd surf a pedido.
Disseram que queriam que os portugueses mostrassem que são o melhor público do mundo, acho que quem estava conseguiu e a banda respondeu na mesma moeda.
Grande momento no Comendatio.
Caligulas’s Horse
Os Caligulas’s Horse são um caso sério no prog mundial.
Alicerçados na capacidade vocal e de escrita de letras de Jim Grey e na composição de Sam Vallen têm criado álbum excelente atrás de álbum excelente.
Rise Radiant, o mais recente e que ainda não tinha sido apresentado em concerto, por causa do Covid, foi a base. De onde extraíram “Tempest”, “Slow Violence” cantadas a plenos pulmões pelo público.
Contaram que convidaram o papa mas ele não apareceu, não se faz, assim era melhor rezar por ferrugem, “Rust”.
Desta vez apresentaram-se como um quarteto, devido à saída da banda de Adrian Goleby.
Ensinaram calão australiano antes de nos pôr a cantar o “We are all”, intro para “Song for no one” do grande disco In contact, é já um clássico.
A mensagem que nos trazem é de paz, aceitação e amor. Esta mensagem surge nas letras, Grey é um forte crítico da hipocrisia e intolerância, o que transparece nas letras. Aceitação é o que o prog é. É experimentação total onde tudo é permitido e tudo aceite (ou pelo menos devia ser).
Tocaram o épico “Graves” e terminaram com “Dream the Dead”, depois da saída da treta para o pessoal gritar, que foi prontamente reconhecido pelo vocalista.
Que bom foi voltar a vê-los. Já lá vão 5 anos desde o RCA e as saudades eram muitas.
Um concerto familiar, como o festival é. O diálogo entre público e palco foi constante. Foi quase intimista, quem não foi perdeu um grande momento.
Bem hajas Comendatio e até para o ano!
PS: levem protetor solar.
No dia 5 passaram, pelo palco do Paço da Comenda: ZUL, Qwentin, Altesia, Hochiminh, os cabeça de cartaz I Built the Sky e os grandes The Ocean.