Nº 18 – Para Que Servem Os Megamuseus?
Longe vão os tempos, mais exatamente em setembro de 1997, em que assisti à estranha inauguração do Centro Comercial Colombo, em Lisboa, que teve até a presença do então presidente da República, Jorge Sampaio. Os acessos estavam inacabados, a maioria das lojas por abrir e muitos andaimes ainda se encontravam pelo caminho. Nada disso importava, afinal era a abertura do maior centro comercial da Europa! Com o tempo o efeito novidade esgotou-se e a oferta padronizou-se. Confesso que atualmente cada vez tenho menos vontade de ir a centros comerciais. O ambiente artificial e o suposto conforto de estacionar o carro à porta não chega. Prefiro o “banho de realidade” do espaço público ou as pequenas galerias comerciais de bairro que começam a renascer pouco a pouco. Chamem-me maluco mas é assim que penso.
Com os megamuseus passa-se um pouco o mesmo. Surgiram nas capitais europeias há mais de 200 anos. Louvre, British Museum ou Prado nasceram por iniciativa das famílias reais ou da aristocracia. Instalaram-se no coração das cidades e em antigos palácios. Nas suas coleções encontramos um pouco de tudo (escultura, pintura, arqueologia…) com especial incidência nas Belas-Artes e nas principais referências artísticas europeias. Misturem-se corredores intermináveis, massas de turistas e arquitetura emblemática e temos a receita perfeita para as cidades ganharem muitos visitantes e receitas. Mais 1000 visitantes menos 1000, estes espaços museológicos figuram sempre entre os mais visitados do mundo. Então porquê questionar a sua existência?
Por duas razões. A primeira tem a ver com o facto destes museus concentrarem num único espaço espólios entre 20 a 40 mil peças que representam todos os domínios da arte, num valor que é impossível de calcular. O incêndio do Museu Nacional do Rio de Janeiro, com características semelhantes aos museus que referi, apesar de ter sido vítima do desinvestimento, é exemplo do perigo que esta concentração representa. O incêndio apagou a memória e a identidade do Brasil, com o desaparecimento da quase totalidade das suas coleções. Estes incidentes podem sempre acontecer, mesmo em instituições museológicas apetrechadas com boas condições de segurança, mas, se as coleções estiverem em diferentes pólos será que não ficam mais protegidas? Claro que surge a dúvida, será que os turistas continuam a interessar-se em fazer uma visita a vários locais em vez de irem apenas a um? Esta questão leva-nos para outro caminho uma vez que a concentração de visitas nestes museus implica o desconhecimento de outros espaços culturais igualmente importantes. Será que esta distribuição das coleções não permitiria descobrir outras formas de conhecer as cidades?
Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.
N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor