O segundo dia de Alive, foi a primeira data do cartaz a esgotar. Os Radiohead voltaram mesmo a tocar “Creep”, numa noite em que o público vibrou também com os animados Two Door Cinema Club e a encenação trágico-sentimental de Father John Misty, no palco Heineken.
A afluência ao recinto começou mais cedo. À chegada, ninguém ficou indiferente à força de Kokeshi que impunha energia para quem por baixo do Pórtico passava.
No EDP Fado Café a programação deste segundo dia foi entregue a Hélder Moutinho, que encantou com os músicos que trouxe. A quem foi entrando no pequeno Fado Café, foi dado a conhecer este género musical, tão diferente de tudo o que se ouve neste festival. A voz e força do fado, original na sua forma de arte. Com improvisos, paragens e humor, os estrangeiros deixaram-se embalar ao som de ritmos, para alguns desconhecidos, das guitarras, baixo, portuguesa e clássica.
Duas bandas oriundas do outro lado do planeta marcam o início de tarde no palco Heineken: os Jagwar Ma, com um rock dançável , a fazer lembrar o ritmo descontraído dos Happy Mondays. “Come Save Me” é um dos temas mais conhecidos da banda, que fez parte deste alinhamento. Também da Austrália, veio Cortney Barnett, talento emergente da indie, que tinha aqui já uma massa considerável de seguidores. Veio apresentar, pela primeira vez, a Portugal o seu álbum de estreia Sometimes I Sit and Think, and Sometimes I Just Sit.
No Palco NOS os Foals deram um grande concerto. Vieram para se dar a conhecer e conquistar. Abriram logo em discurso direto para o público: “Olá Lisboa, nos somos Foals do Reino Unido. Vamos passar um bom bocado”. Começaram com “Snake Oil” e foram alternando momentos de rock mais agitado com uns embalos emocionais. “Mountain At My Gates”, foi acompanhada em coro pelo público, que no final teve um sentido agradecimento de Yannis Philippakis, o vocalista: “Vocês são um público incrível”. Um mergulho na multidão, no final do set para abraçar os fãs, foi uma recompensa mais do que merecida.
Os tão acarinhados Tame Impala eram outro dos nomes fortes da noite. Num concerto com legião de fãs embalados e a ecoar as letras, transpareceram a vontade de tocar e gosto por fazê-lo em Portugal. Já bem conhecidos do público festivaleiro, Kevin Parker agradece da melhor forma, terminando o concerto numa despedida sentida, por entre confetis, luzes e um elogio ao espaço que envolve todo o recinto.
À entrada de Carlão, no palco Heineken, percebe-se a realidade da afluência de portugueses ao NOS Alive: uma imensa minoria. Ainda assim, e apesar de admitir o nervosismo com a presença neste festival, e num palco guardado para outras sonoridades, Carlão foi conseguindo juntar curiosos à sua legião de fãs. Em dupla com Bruno Ribeiro, na sua cena, com um discurso atual e por vezes politizado, trouxe a este palco amantes do hip hop e vontade de dançar de outros tantos; a reação às letras foi uma constante. Carlão apresentou o seu último álbum Quarenta e prova que está atento a tudo o que se passa à sua volta. Constrói filosofia ao ritmo de uma batida única e tem cada vez com mais seguidores. Abre com “Entre o Céu e a Terra”, “Crioula”, “Comité Central” e convida ainda Moullinex a acompanhar a banda. Distribui recados e fala sobre excessos e vícios em “Uma Vez é Demais”.
Ao lado de Carlão, atuam os HMB, no palco Clubbing, numa sonoridade muito sua que permitiu que o sol desaparecesse no Passeio Marítimo ao som de português. Juntaram-se-lhes, em palco, Carminho para “O Amor É Assim” e Agir em “Parte-me o Pescoço”. Pequenas surpresas que fizeram o público a vibrar.
De regresso ao Heineken, assistimos a um dos melhores concertos da noite, apesar do próprio artistas ter esclarecido desde logo que odeia tocar em festivais. Father John Misty cresce em popularidade no universo de música alternativa e percebe-se porquê. A intensidade com que se entrega em palco é teatral e trágica. Uma encenação que faz vibrar o publico, em especial quando se revolta, a meio da canção e deambula frenético, pelo palco, indo ao chão por várias vezes. A poderosa voz deve-se ouvir do outro lado do rio e percorre as veias de quem está ali a assistir. “Hollywood Forever Cemetery Sings”, “I’m Writing a Novel”, “I Love You, Honeybear” ou “The Ideal Husband” são alguns dos temas que canta nesta noite quente. No final, a resposta a esta intensidade vem do público: um soutien voa para o palco e passa a servir de adereço decorativo ao microfone do compositor. A despedida foi difícil e o público ficou a pedir mais.
Com a lua logo ali os Radiohead entram em palco e a multidão aos poucos opta pelo chão para ouvir “Burn the Witch”. Seguiram-se as músicas do mais recente álbum, sem deixar de criar o habitual ambiente enigmático ao som de “Daydreaming” e “Decks Dark”. Com um alinhamento que não surpreendeu, Radiohead continuam a ter uma legião de seguidores, pelo que a música e a presença de Thom Yorke fazem-se sentir. Designados por rock alternativo, com um último álbum mais ritmado, continuam a ser uma das bandas mais influentes e admiradas do público.
A pedido da banda, e pela primeira vez neste festival, toda a animação nos restantes espaços está suspensa até ao final do concerto de Radiohead, fazendo com que os mais desanimados com a soturnidade da banda esmoreçam ao longo destas duas horas.
O Fado Café aguarda ansiosamente a entrada de Nuno Markl, mas parece que só vai mesmo haver slows depois da 1 da manhã, e uma hora depois do previsto, para desanimo dos que aguardam, sentados no chão.
E o grande momento da atuação dos Radiohead é mesmo o velhinho êxito “Creep”, entretanto renegado pelos próprios, que só voltaram a tocar ao vivo este ano, e em modo de segredo. A set list da banda não o inclui explicitamente. É uma espécie de “brinde” quando a audiência é merecedora.
A festa regressa com força redobrada ao palco Heineken com a atuação dos Two Door Cinema Club. Depois de já terem marcado presença no palco principal, regressam ao Alive a um espaço que não consegue acolher todos os que querem assistir ao concerto. A loucura é geral. Será por ter sido contida, à força, nas duas horas anteriores de ambiente mais introspetivo? Certo é que todos dançam, muitos pulam e Alex Trimble, o vocalista, tem o público aos pés desde o início. Aproveitam para apresentar novos temas do disco de originais que irá suceder a “Tourist History” e “Beacon”. Entre eles, o novo single “Are We Ready”. Fecham com um gigante coros nos temas “Someday” e o hino “What You Know”
No Raw Coreto, pela noite dentro, com um Dj Boy Named Sue que viaja por diferentes estilos musicais, inventando e não deixando os festivaleiros em redor do Coreto parados, num mix de batidas eletrónicas e swing, sem chocar, e contagiantes.
O terceiro dia de NOS Alive 2016 arranca hoje também já com lotação esgotada. Os Arcade Fire vão certamente fechar em beleza uma noite que vai contar também com Agir, Band Of Horses, Vestuta Morla e M83.