Não é uma peça fácil. É daqueles casos que são mais um abanão. Forte, para nos fazer sair da nossa zona de conforto. Para nos fazer pensar. Afinal, o papel mais importante do teatro em particular e da arte em geral.
O texto de Tim Crouch é uma peça dentro de outra peça. Um autor, um espetador e dois atores de uma outra peça falam-nos da sua experiência e de como a violência dessa outra peça os afetou. E esse é o fio condutor que nos leva pela nossa própria reflexão sobre a violência, a guerra, as violações, a pedofilia. Pelo nosso papel enquanto espetadores de uma realidade que se desenrola ao nosso redor.
A própria disposição da sala contribui para esta dinâmica: três filas de cadeiras dispostas frente a frente, com os atores sentados no meio do público passando esporadicamente para o meio da sala. Uma sala pequena, aconchegante (sufocante?) em que a distância a que o espetador normalmente se encontra diminui. E fica a pergunta: diminuindo a distância do espetador, diminui a sua responsabilidade face à violência que assiste?
A encenação de Sérgio Guerreiro potencia o trabalho dos atores Álvaro Aragonez, Artur Malheiro, Inês Mata e Luís Santos Mascarenhas. Sentimo-nos simultaneamente espetadores e participantes, inocentes e voyeurs.
A peça estará em cena até ao dia 15 de setembro na Boutique da Cultura em Carnide. De quinta a sábado às 21h00 e ao domingo pelas 17h00. Os bilhetes custam 10 euros e podem ser adquiridos online e no local.
