A experiência do segundo dia de Super Bock Super Rock começa… no carro. Longe do trânsito de outros tempos, a estrada nacional que nos leva ao recinto da Herdade do Cabeço da Flauta não consegue ainda assim impedir filas consideráveis em dias de maior afluência ao festival. É através da emissão da Antena 3 ouvimos o concerto de Cults. A dupla norte-americana (viemos a saber mais tarde que acompanhada de banda) ocupa o palco principal para expor um pop cativante com temas como “Abducted” e “You Know What I Mean”. A canção “I Can Hardly Make You Mine” é dedicada ao grupo Sleigh Bells, os sacrificados deste segundo dia de festival (mais detalhes à frente) e o concerto termina com “Go Outside”, do primeiro EP da banda (2010).
Ainda a recuperar da chegada atribulada, ouvem-se à entrada no recinto os últimos acordes de Joe Satriani, virtuoso guitarrista cujo rock instrumental oscila entre riffs empolgantes e solos monótonos. Se os aplausos e respectivos agradecimentos servem de indicador, quem assistiu ao concerto terá gostado. A caminhada para o palco principal tem paragem obrigatória no palco Antena 3, no qual o brasileiro Emicida, acompanhado de banda e DJ, entrega a uma dose generosa de seguidores um hip hop de consciência social onde não faltam temas do seu mais recente álbum (“O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui”, 2013).
Já com atenções centradas no palco principal, assistimos a uma chegada confiante de Paulo Furtado. The Legendary Tiger Man faz-se acompanhar de quarteto de cordas e baterista para apresentar temas do seu novo trabalho (“True”, lançado na primeira metade deste ano), tais como “Love Ride” e “Green Onions”. “Naked Blues”, “Gone” e “These Boots Are Made for Walking” são outros pontos altos de uma atuação que parece invocar chuva sobre o recinto (os fãs não arredam pé). Pelo meio ficam contribuições de artistas nacionais (Alex d’Alva Teixeira, Ana Cláudia, Filipe Melo e João Cabrita) e retornos momentâneos de Paulo Furtado ao modelo “one man show”, isolando-se em palco para produzir sozinho voz, guitarra e ritmo num resultado blues rock fiel às origens. As consecutivas mudanças de alinhamento conferem ao espectáculo um tom dinâmico: enquanto que a performance solo é crua e meritória, a participão de músicos adicionais confere maior textura aos temas apresentados.
A chuva que passou ao lado de um Tiger Man imperturbável parece ter tido efeitos nocivos do outro lado do recinto. O palco EDP tinha acabado de ver a atuação dos britânicos Pulled Apart From Horses, um grupo britânico de rock pesado que se sentiu incomodado com as cantorias distantes de Paulo Furtado (“Let’s tell those guys on that stage to shut the f*ck up, we are trying to play a gig here”), e ficaria fechado “para obras” até à 1h da manhã, devido a inundação.
Imune às condições climatéricas, Capicua atua à hora prevista no palco Antena 3. Acompanhada pela rapper M7 e pelo DJ D-One (as ilustrações da tela de fundo, em modo “Microsoft Paint”, ficam a cargo de Dário, escondido algures nas imediações), Capicua debita com emoção visível temas como “Sereia Louca”, “Casa de Campo”, “A Mulher do Cacilheiro” e o single “Vayorken”. A tenda está lotada ao longo de todo o concerto, numa mistura entre fãs genuínos (são muitos) e outros tantos festivaleiros que, por virtude dos problemas técnicos, não têm atuações alternativas em nenhum dos outros palcos.
De regresso ao palco principal, é tempo de Woodkid animar a noite. Nome artístico de Yoann Lemoine, trata-se de um artista que não se cinge à produção musical (realizou, a título de exemplo, videoclips para artistas como Kate Perry e Taylor Swift). Woodkid usa o tempo que lhe é conferido para entregar sonoridades de pop orquestral e maximalista: munido de sons de cordas, sopros e uma voz grave e irrepreensível, o som do palco principal enche o ouvido através de temas maximalistas como “Stabat Mater” e “Technology”. O concerto termina com uma sequência de ritmos dançantes, começando no novo tema “Volcano”, passando por “Iron” e “The Great Escape” e concluíndo com o badalado “Run Boy Run”.