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O Reencontro Com Eddie Vedder No Segundo Dia Do SBSR

Reportagem de José Boaventura Rodrigues (texto) e Tiago Espinhaço Gomes (fotografias)

SReportagem de José Boaventura Rodrigues (texto) e Tiago Espinhaço Gomes (fotografias)
O segundo dia da 20ª edição Super Bock Super Rock contou com Cat Power, Woodkid, The Legendary Tigerman e o incontornável Eddie Vedder. Complicações técnicas no palco EDP resultaram em atrasos e trocas de horários.

A experiência do segundo dia de Super Bock Super Rock começa… no carro. Longe do trânsito de outros tempos, a estrada nacional que nos leva ao recinto da Herdade do Cabeço da Flauta não consegue ainda assim impedir filas consideráveis em dias de maior afluência ao festival. É através da emissão da Antena 3 ouvimos o concerto de Cults. A dupla norte-americana (viemos a saber mais tarde que acompanhada de banda) ocupa o palco principal para expor um pop cativante com temas como “Abducted” e “You Know What I Mean”. A canção “I Can Hardly Make You Mine” é dedicada ao grupo Sleigh Bells, os sacrificados deste segundo dia de festival (mais detalhes à frente) e o concerto termina com “Go Outside”, do primeiro EP da banda (2010).

 

Ainda a recuperar da chegada atribulada, ouvem-se à entrada no recinto os últimos acordes de Joe Satriani, virtuoso guitarrista cujo rock instrumental oscila entre riffs empolgantes e solos monótonos. Se os aplausos e respectivos agradecimentos servem de indicador, quem assistiu ao concerto terá gostado. A caminhada para o palco principal tem paragem obrigatória no palco Antena 3, no qual o brasileiro Emicida, acompanhado de banda e DJ, entrega a uma dose generosa de seguidores um hip hop de consciência social onde não faltam temas do seu mais recente álbum (“O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui”, 2013).

 

Já com atenções centradas no palco principal, assistimos a uma chegada confiante de Paulo Furtado. The Legendary Tiger Man faz-se acompanhar de quarteto de cordas e baterista para apresentar temas do seu novo trabalho (“True”, lançado na primeira metade deste ano), tais como “Love Ride” e “Green Onions”. “Naked Blues”, “Gone” e “These Boots Are Made for Walking” são outros pontos altos de uma atuação que parece invocar chuva sobre o recinto (os fãs não arredam pé). Pelo meio ficam contribuições de artistas nacionais (Alex d’Alva Teixeira, Ana Cláudia, Filipe Melo e João Cabrita) e retornos momentâneos de Paulo Furtado ao modelo “one man show”, isolando-se em palco para produzir sozinho voz, guitarra e ritmo num resultado blues rock fiel às origens. As consecutivas mudanças de alinhamento conferem ao espectáculo um tom dinâmico: enquanto que a performance solo é crua e meritória, a participão de músicos adicionais confere maior textura aos temas apresentados.

 

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A chuva que passou ao lado de um Tiger Man imperturbável parece ter tido efeitos nocivos do outro lado do recinto. O palco EDP tinha acabado de ver a atuação dos britânicos Pulled Apart From Horses, um grupo britânico de rock pesado que se sentiu incomodado com as cantorias distantes de Paulo Furtado (“Let’s tell those guys on that stage to shut the f*ck up, we are trying to play a gig here”), e ficaria fechado “para obras” até à 1h da manhã, devido a inundação.

Os efeitos são visíveis face ao plano inicial: Cat Power tocaria com mais de uma hora de atraso, deixando Eddie Vedder e fãs à espera outro tanto (apesar de ser num palco diferente, o concerto acústico assim o exige). Pelo caminho ia ficando o duo noise pop Sleigh Bells: a boa vontade dos artistas (com a vocalista Alexis Krauss a servir de porta voz da organização nos sucessivos atrasos!) quase lhes custa uma atuação que deveria preceder Cat Power no palco EDP e acaba por acontecer às 5h da manhã, já depois de Eddie Vedder ter arrumado as malas.

Imune às condições climatéricas, Capicua atua à hora prevista no palco Antena 3. Acompanhada pela rapper M7 e pelo DJ D-One (as ilustrações da tela de fundo, em modo “Microsoft Paint”, ficam a cargo de Dário, escondido algures nas imediações), Capicua debita com emoção visível temas como “Sereia Louca”, “Casa de Campo”, “A Mulher do Cacilheiro” e o single “Vayorken”. A tenda está lotada ao longo de todo o concerto, numa mistura entre fãs genuínos (são muitos) e outros tantos festivaleiros que, por virtude dos problemas técnicos, não têm atuações alternativas em nenhum dos outros palcos.

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De regresso ao palco principal, é tempo de Woodkid animar a noite. Nome artístico de Yoann Lemoine, trata-se de um artista que não se cinge à produção musical (realizou, a título de exemplo, videoclips para artistas como Kate Perry e Taylor Swift). Woodkid usa o tempo que lhe é conferido para entregar sonoridades de pop orquestral e maximalista: munido de sons de cordas, sopros e uma voz grave e irrepreensível, o som do palco principal enche o ouvido através de temas maximalistas como “Stabat Mater” e “Technology”. O concerto termina com uma sequência de ritmos dançantes, começando no novo tema “Volcano”, passando por “Iron” e “The Great Escape” e concluíndo com o badalado “Run Boy Run”.

O palco EDP reabre finalmente para receber o muito esperado concerto de Cat Power. Chan Marshall e artistas acompanhantes entram em palco para um concerto curto (afinal de contas, Eddie Vedder está no outro lado à espera). Num tom tímido, Cat Power entrecorta belos temas da sua já preenchida carreira (“The Greatest” , o novo single “Cherokee”, “Metal Heart”, “Ruin”) com pedidos de desculpa e declarações de amor aos fãs. O longo percurso da artista e a dedicação dos fãs mereciam um concerto mais pontual e duradouro.
De volta ao palco principal, o desespero de uma hora em espera está prestes a terminar para os fãs de Eddie Vedder, cabeça de cartaz da noite. Tal como esperado, Eddie sobe a palco sozinho, munido de guitarra acústica, elétrica e ukulele. A descontracção e afabilidade do artista é notória e inteiramente justificada: a devoção dos fãs é total, dando a Eddie carta livre para fazer o que lhe apetece nas duas horas e meia que se seguem. Talvez por isso, são menos importantes os resultados visíveis da atuação (a carismática voz está gasta, a guitarra pode tocar mais ou menos um acorde que ninguém se importa), mas antes o sentimento que o músico entrega, as mensagens de paz e harmonia que transmite e o tom de nostalgia face aos hinos do passado. De resto, os fãs recebem tudo a que têm direito: a passagem pelo repertório dos Pearl Jam (“Courduroy”, “Wishlist”, “Last Kiss”, “Better Man”), homenagens a colossos como Neil Young , Bob Dylan e Beatles, conversas amenas em português arranhado, participações de colegas de festival (Legendary Tigerman e Cat Power). No final Eddie Vedder e fãs despedem-se de mais uma reconfortante reunião de amigos em solo nacional.
O último dia do Super Bock Super Rock fica reservado para The Kills, Foals e Kasabian. Esperemos que Sábado nos traga melhor tempo e maior organização.

 

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