O antigo baixista de bandas como Joy Division e New Order, que marcaram uma geração, atuou ontem na Aula Magna. Casa cheia, a dançar e a vibrar com a sonoridade dos anos 80, conduzida por Peter Hook que se faz acompanhar da banda The Light.
Foi uma noite dividida em dois atos. O primeiro dedicado à pop da época, os New Order, sobrecarregada de sintetizadores, que chegaram a abrir caminho para as pistas de dança das discotecas da moda. O segundo ato, mais cerrado, mas que conseguiu conduzir a densidade depressiva das músicas dos Joy Division, para um momento de celebração, com um tom mais rock.
Peter Hook foi co-fundador dos Joy Division, juntamente com Bernard Sumner, com quem depois continuou para os New Order. Os Joy Division terminaram, de forma abrupta, com a morte do seu vocalista Ian Curtis em 1980. Peter Hook foi baixista da banda que deu continuidade a este projeto até 2007, quando se incompatibilizou com os restantes membros da banda.
Os New Order continuam em atividade, com dois membros originais: Bernard Sumner e Stephen Morris e duas aquisições mais recentes: Gillian Gilbert e Phil Cunningham. Integram o cartaz do festival de Paredes de Coura, este verão.
Ainda que a voz de Peter Hook se dilua no meio da turbulência musical, quem esteve presente no concerto, esta sexta feira, fez orelhas moucas. O essencial estava lá. Os acordes, as musicas que todos cantaram com fervor. Sem se importarem de sobrepor a sua voz à de quem tem uma missão maior em palco: a guitarra baixo. A t-shirt dominante envergada – capa de Unknown Pleasures de Joy Division – caracterizava a amostra. Alguém na fila de trás comentava “Estou a ver tanta cara conhecida, lá atrás, do antigamente”. O antigamente veio à Aula Magna para ouvir, ao vivo, os sons conhecidos do tempo da K7 e do vinyl. E voltar a sentir velhas aventuras dos tempos de escola.
A Seleção New Order
A noite começou 10 minutos depois da hora marcada, tempo para todos encontrarem o seu lugar, no anfiteatro da Reitoria da Universidade de Lisboa. Abriram com “Regret”, ainda com um som muito desarticulado e continuaram para “Procession”. “Oh, I’ll break them down, no mercy shown/ Heaven knows, it’s got to be this time” canta o público, ao ouvir “Cerimony”. A voz de Peter Hook ainda não se faz bem ouvir, mas ninguém se importa de lhe emprestar um pouco da sua, no refrão. “Everything Goes Green” descola os primeiros fans das cadeiras e “Temptation” retira os restantes. A batida de “Blue Monday” é reconhecida logo na entrada e tribo urbana dança de forma descontraída.
A comunicação que Peter Hook vai estabelecendo com o público é através da sua música. Aproxima-se, faz solos, junto de quem se encontra nas primeiras filas e faz vibrar os presentes. Neste revival dos anos 80 não faltaram temas fortes como “The Perfect Kiss”, “Shellshock”, “Bizarre Love Triangle” e “True Faith”. Um alinhamento de sonho, para quem esperou mais de 30 anos por este momento.
Pelas 22h30 e depois de um momento de apoteose, os músicos saem, sem uma palavra e acendem-se as luzes da sala. As pessoas cruzam olhares incrédulos… “Acabou??? Assim???”. A verdade é que a sessão ia a meio e quando regressaram, Peter Hook e a banda The Light deram nova injeção de nostalgia. Recuaram no tempo, e ofereceram uma boa seleção de temas de Joy Division.
O Antes de Joy Division
Marcada pela personalidade conturbada do seu vocalista e guitarrista, os Joy Division, deixaram um marco no pós-punk. Desta herança, a sessão de sexta-feira começou com “Day of The Lords”. As letras cinzentas foram aqui carregadas de guitarras e contaram com muita gente de pé, a cantar, de olhos fechados. Mais agitados em “Shadowplay”,“Digital” ou “Transmission” (em transe com a deixa “dance, dance, dance, dance, dance, to the rádio”. “She’s Lost Control” e “Dead Souls” conduzem depois para o fecho da noite, com dois momentos altos: um, mais introspetivo, com “Atmosphere” e um final festivo com “Love Wil Tear Us Apart”.
Peter Hook & The Light continuam a digressão em Portugal. Atuam este sábado no Teatro Municipal da Guarda e domingo na Casa da Música, no Porto. Imperdível para os admiradores das bandas!