Com o à vontade de quem foi a um encontro de velhos amigos, Rod Stewart deu, esta segunda feira, um concerto memorável em Lisboa. Duas horas de grandes êxitos, acompanhado de uma excelente banda e produção a condizer.
O lançamento do seu 30º álbum, do qual apenas se sentiu “um cheirinho”, logo na abertura do concerto, foi o motivo para esta Blood Red Roses Tour. Com um ar descontraído (e descomprometido), Rod Stewart foi um excelente anfitrião da festa que se viveu na Altice Arena. E nem o visível coxear (explicou que caiu, durante a tarde, numa visita ao Estádio Nacional) o impediu de dançar, saltitar e rodopiar (ao pé coxinho!!!) quando a música assim o chamava. Aos 74 anos, o cantor não anuncia despedidas, nem reformas. Pelo contrário. Espalha charme e energia por quem o quer ouvir. E são muitos os que querem cantar com a voz rouca mais sexy da história, como se viu com a lotação quase esgotada do recinto.
A noite começou cedo, às 20h30, com “Hole in my heart”, um dos temas do trabalho editado em 2018, Blood Red Roses. Seguiu-se o mote da noite “Having a Party”, uma versão do tema de Sam Cook, com cenário a condizer: bailarinas com vestidos curtos e estampado de leopardo (a condizer com o casaco) de Sir Rod, palco espelhado, a brilhar e grandes ecrãs carregados de clichets de festa: cocktails, ananases, rolhas de champanhe e óculos de festa. Uma bola de espelhos faz de moldura a imagens mais aproximadas dos músicos.
Rod Stewart avisa que vai ficar por ali nas próximas duas horas e durante 23 músicas. “Aproveitem!” e começa a desfilar os seus êxitos de sempre “Stay with me”, “Some guys have all the luck” e “Forever young”. Rod Stewart partilha o espetáculo com a restante equipa, e por vezes retira-se, para mudar de roupa e certamente recuperar o fôlego. Mas o público não parece incomodado com o facto de ficar a ver o grande desempenho das bailarinas em cima de três tablaos, a marcar o ritmo com os pés, de forma vigorosa.
Antes de “Rhythm of My Heart”, aproveitou para celebrar a liberdade e recordar a celebração do dia de desembarque na Normandia. Refere que esta música é sobre esta conquista da Europa. As imagens são agora de soldados a marchar e o ambiente torna-se mais sério. Segue-se um tema de 1976, “Tonight’s the Night (Gonna Be Alright)”. Rod Stewart percebe o entusiamo do público e estica o microfone para que cantem o refrão com ele. Segue-se outra igualmente conhecida e celebrada “Tonight I’m yours (Don’t hurt me)”.
Anuncia o tema seguinte, como a música que teve o prazer de gravar com Tina Turner: “It takes two” é aqui interpretada, de forma brilhante, com uma das suas cantoras. O coro de vozes continua em “Have you ever seen the rain”, uma das covers que também gravou dos Creedence Clearwater Revival.
O cantor recua depois a 1972 e anuncia um tema que gravou com Ronnie Wood, em Londres. A música foi registada em dois takes e com duas garrafas de vinho, contou. “Esses é que foram dias, meus amigos” deixa sair entre risos. Depois do momento em que a Altice Arena ficou iluminada pelas luzes dos telemóveis, ficamos entregues à banda, para o belo tema da banda sonora de “Local Hero”.
No regresso é colocada uma fila de poltronas. Abre espaço a um momento mais intimista, que deixa muitos à beira das lágrimas, à conta de amores e desamores vividos à boleia destes temas. “I don’t want to talk about it”, “The first cut is the deepest”, “Dirty old town” (recuperado do seu primeiro disco, editado em 1969 e que não tocavam há 10 anos).
“Esta é uma noite maravilhosa!” disse o cantor, a um público que se mostrou rendido, desde o início. E trouxe de seguida, para o palco, o futebol e a devoção pelo clube Celtics, seu grande amor, a par da música com “Your in my heart”. Fechou este momento de serenata com “Have I told you lately”, com o aviso “é só mais um slow e volto a por-me de pé. Esta é para matar, vocês sabem…”.
“She works hard for the money” ficou a cargo das vozes femininas, que encantaram com os reduzidos vestidos brancos. Rod Stewart regressa no final do tema, com uma roupa a condizer e levantou todo o público da sala, para com ele cantar e dançar “Baby Jane” seguido de outro grande clássico “Sailing”. O pano começa a cair, mas o público pede mais. “Do you think I’m sexy” e “Maggie May” encerram este alinhamento de luxo, que o cantor trouxe desta vez a Lisboa. Há bolas no ar, mas muita alegria partilhada e memórias revividas ao som desta lenda viva da música.