As ruínas romanas de Tróia já abriram ao público com um novo percurso de visitas guiadas, resultado de um investimento por parte da Sonae Turismo superior a 150 mil euros.
Classificadas como Monumento Nacional desde 1910, as ruínas incluem estruturas com cerca de dois mil anos de história. Em 2005, mediante um Protocolo celebrado com o Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR) e o Instituto Português de Arqueologia (IPA) – actualmente parte do Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico (IGESPAR) –, o Troiaresort criou uma equipa de arqueologia que desenvolve trabalhos de investigação no local. O investimento público-privado foi inaugurado no passado dia 1 de Junho pelo secretário de Estado da Cultura, Elísio Summavielle.
Alvo de pesquisas e estudos ao longo de mais de 400 anos, o espaço disponível para ser visitado inclui a área residencial da Rua da Princesa, as termas, o mausoléu e a necrópole do mausoléu e uma basílica paleocristã com pinturas murais de cerca de 2,5 metros de altura, inseridos num “complexo de produção de salgas de peixe que, posteriormente, se tornou um aglomerado urbano”, conforme explica Inês Vaz Pinto, que coordenou a equipa de arqueólogos.
Integradas no complexo turístico troiaresort, as Ruínas Romanas de Tróia são o maior complexo de produção de salgas de peixe conhecido no mundo romano. Construído para aproveitar a riqueza do peixe do Atlântico e a qualidade do sal das margens do Sado, terá estado ocupado até ao século VI.
O seu elemento mais típico é o conjunto das oficinas de salga, com tanques para preparação de conservas e molhos de peixe, incluindo o garum, muito citado entre os autores latinos. Também estão a descoberto termas com salas e tanques para banhos quentes e frios, um núcleo de habitações com casas de rés-do-chão e primeiro piso, uma rota aquaria (roda de água), um mausoléu, necrópoles com distintos tipos de sepulturas e uma basílica paleocristã com paredes pintadas a fresco.
Muito mais por descobrir
O espaço arqueológico aberto aos visitantes oferece agora percursos com cerca de 450 metros (numa área com cerca de 6.500 metros quadrados), o que constitui uma pequena parte daquilo que os arqueólogos acreditam ser o complexo industrial de salga de peixe. Inês Vaz Pinto acredita que por agora esteja visível apenas “uma quinta parte, ou menos, daquilo que está enterrado. Foram feitas sondagens e escavações arqueológicas que indicam que toda a zona de dunas envolvente encerra em si, sob as areias, a continuação da urbe”. Segundo a responsável, existe a intenção de criar um centro de interpretação no próprio complexo, em quatro ou cinco anos, expondo a cerâmica descoberta, além dos restos alimentares, conchas e outros artefactos históricos.
Futuramente, aquando da requalificação da envolvente, outros núcleos não menos importantes, como a necrópole das sepulturas de mesa e o complexo da basílica paleocristã, serão valorizados.
Durante os últimos cinco anos de trabalho, a arqueóloga destaca “os momentos em que se fez mais uma descoberta, em que se chegou mais longe” como os pontos altos. “Descobrimos um nível de construção da grande oficina de salga referente ao tempo de Tibério, ou seja, primeira metade do século I. Havia já vestígios da segunda metade do século I, mas com estas escavações recuámos uns 25 anos, o que em arqueologia significa mais um passo”.
Os achados e artefactos encontrados nas escavações, “muita cerâmica, loiças finas, ânforas, espinhas de peixes – que demonstram que a sardinha era o peixe mais utilizado na salga –, conchas de ostras, de lingueirão e de mexilhão e ossadas de cinco indivíduos, todos identificados como sendo de crianças, serão posteriormente mostrados num centro de interpretação a construir na zona das ruínas” pela Sonae.
Responsabilidade do arquitecto paisagista Hipólito Bettencourt, o projecto apresenta painéis explicativos, sinalética e outros elementos de divulgação da autoria do designer Francisco Providência.
O novo percurso está aberto ao público de terça-feira a sábado das 10h00 às 13h00 e das 14h30 às 18h30. Já as visitas guiadas, neste mês de Junho, realizam-se todos os sábados, às 15h00. Os bilhetes custam 5 euros, ascendendo a 7,5 euros no caso de a visita ser guiada. Para crianças com idades até aos 14 anos e para grupos escolares as entradas são gratuitas. Igualmente prevista, está a realização de um conjunto de atividades para grupos, designadamente um almoço ou jantar romano, jogos romanos, um passeio pela orla do estuário, uma palestra sobre o papel de Tróia no império romano ou a integração na equipa de arqueologia, por um dia, caso os jovens sejam maiores de 13 anos.
Texto de Cristina Alves