Folias e tropelias, sátiras e mal dizeres, amores e desamores sempre serviram de inspiração aos autores de todos os tempos e o Mestre Gil Vicente não foi uma exceção, seguindo a sua tradição, a Companhia teatral Tapafuros inspirou-se em alguns dos seus textos e encenou Solércia, nos esotéricos jardins da Quinta da Regaleira, em Sintra.
Seguindo o estilo a que já nos habituou, os Tapafuros voltam mais uma vez a pegar em textos clássicos e de vários autores (neste caso basearam-se apenas em Gil Vicente) e encenaram uma peça de características únicas, em que o humor e o drama se apresentam harmoniosamente lado a lado, a par da crítica social, enquanto atores e espetadores precorrem os jardins da Quinta, sob o manto da noite.
Caminhemos, rumo incerto mas definido, neste terreno mundo de mil aparências: amor serôdio à mais bela das criaturas, espanto espantoso d’existir quando assim sempre se existiu, tudo embarca nesta estranha viagem! Esqueçamos o que foi, pois apenas foi ilusão ou sonho. E assim continuará. O corpo é nada, tão breve como a breve noite. Entremos nela em abandono, conduzindo os olhares na diáfana ambiência. Chegámos à serra Solércia, irmã siamesa da noite lunar. São uma e una. Contemplemos sem peias o nosso passado sentir. Bebamos com delícia o novo aprender. E depois nada. Sereno estar, talvez. A noite é uma criança. Brinquemos com ela. Como ela. Vicentinas viagens faremos então. Num percurso de subtil entendimento: mundanos estamos no burburinho de feira que é a vida. Mergulhamos sem respirar para o início do Mundo, lá nos perdemos e em barcos queremos estar, medo de mar! Regressamos Ninguém, limpos de tudo. Nesta Serra Solércia que nos oferece sempre um silêncio de infinda palavra.
Este é o ponto de partida desta nova aventura, que passa pelos jardins, relvado do Palácio, Capela, Patamar do Ténis, Patamar dos Deuses, Gruta do Oriente, Poço Iniciático e Terraço do Mundos Celestes e que visita textos quinhentistas como o Velho da Horta, o Breve Sumário da História de Deus, o Auto da Barca do Inferno e o Auto da Lusitânia.
Uma aventura cheia de mistérios e surpresas a descobrir, música e danças ao vivo e com as interpretações de Rute Lizardo, Flávio Tomé, Paulo Cintrão, Ricardo Soares, Henrique Martins, Catarina Salgueiro, Regina Gaspar e encenação de Rui Mário.
A peça está previsto ficar em cena até domingo, dia 25 de setembro, às 21h00,e tem ainda encenações nos dias 22, 23 e 24 às 22h00, nos jardins da Quinta da Regaleira, em Sintra. Os bilhetes podem ser adquiridos na bilheteira da Regaleira ou pela internet. A produção aconselha a todos os espetadores a levarem agasalhos e calçado confortável para assistir ao espetáculo.