Com estreia marcada para 1 de junho, Macbeth, a tragédia de Shakespeare, é a próxima produção do Teatro Nacional São João. O espetáculo marca a primeira incursão de Nuno Carinhas por Shakespeare e o regresso de João Reis ao papel de protagonista.
“Marcamos encontro para quando?” é a frase de abertura de Macbeth, a mais veloz, a mais enigmática, a mais maligna ou até a mais moral das tragédias daquele que ousou inventar o humano.
Pela primeira vez no seu trajeto de encenador, Nuno Carinhas enfrenta uma obra de William Shakespeare, e começa por esse nome que parece atrair todos os superlativos: Macbeth, do dramaturgo britânico. A próxima produção do Teatro Nacional São João (TNSJ) – a terceira esta temporada – estreia-se a 1 de junho e marca ainda o regresso de João Reis enquanto protagonista dos espetáculos da Casa, neste que será o “seu” sexto Shakespeare.
“Tão feio e belo dia nunca vi”, diz Macbeth assim que entra em cena, oferecendo-nos uma descrição da chamada “peça escocesa”, território habitado por ritos maléficos, prenúncios, noites sangrentas, insónias, fantasmas – e pela pergunta: o que significa ser homem, agir como um homem? Há quem considere que a tragédia desta peça de Shakespeare não se cinge apenas à destruição de Duncan, Banquo e da família de Macduff, com todos os massacres e assassínios que implicam a luta e manutenção do poder e o augúrio das irmãs Moiras, mas sim ao facto de que, durante o processo, os Macbeth destroem o seu próprio casamento. Já outros críticos encaram-no como o casal mais feliz da obra Shakespeare.
A influência e poder de persuasão de Lady Macbeth – interpretada pela atriz Emília Silvestre – ao incentivar o marido a matar o rei legítimo e a usurpar o trono é, aliás, um dos aspetos mais desconcertantes da peça ao revelar-nos uma mulher calculista e imperturbável, mas tão feminina que precisa de convocar os espíritos para a dessexualizarem (“castrai-me do meu sexo e enchei-me de alto a baixo com firmeza cruel”). Nesta nova viagem pelo sempre “viciante” universo shakesperiano, o TNSJ conta com um elenco que tem vindo a participar nos mais sonantes espetáculos da Casa, com Nuno Carinhas a assumir, além da encenação, a cenografia e figurinos de Macbeth.
As descrições de Shakespeare do horror, da brutalidade de uma mudança de regime e das consequências do código masculino da guerra trazem-nos uma assustadora sensação de atualidade. “Não sei se Deus criou Shakespeare, mas sei que Shakespeare nos criou a nós, num grau verdadeiramente aterrador”, diria Harold Bloom.
Macbeth estará em cena até dia 22 de junho, no TNSJ: quarta-feira às 19h00, quinta e sexta-feira às 21h00, sábado às 19h00 e domingo às 16h00. Os bilhetes variam entre os 7,50 euros e os 16 euros e podem ser adquiridos no local e online.
A 3 de junho, o crítico literário Ricardo Araújo Pereira junta-se ao tradutor e encenador Daniel Jonas, a Nuno Carinhas e a Maria Sequeira Mendes (investigadora que vem escrevendo sobre Shakespeare, ordálias medievais e modos de tortura, apresentando conferências nas Universidades de Harvard, Stanford, Princeton e King’s College) para discutir a as questões que a obra de Shakespeare levanta. Esta sessão tem inicio às 15h00 com entrada gratuita.