Até onde pode ir a devoção por uma banda de música? Pelo que assistimos, a noite passada, na Altice Arena, ao ponto de se tatuar letras de canções no próprio corpo. Este reverência é real e tem por altar os Thirty Seconds to Mars. A banda, atuou ontem, em Lisboa, com os fãs, eufóricos, a fazer parte do espetáculo.
Depois de Braga, os Thirty Seconds to Mars atuaram em Lisboa. O recinto não estava lotado, mas bem composto. Numa altura em que as pessoas pouco pagam para ouvir as suas músicas preferidas, as bandas acrescentam, aos bilhetes para os concertos, determinados privilégios. A proximidade com as estrelas é agora taxada e, neste caso, podia incluir uma partilha de espaço com os músicos. Muitos fans, tiveram assim esta oportunidade dourada, de viver uma noite inesquecível.
Os irmãos Leto entraram em palco pouco depois das 21h30. Com a saída de Tomo Milicevic, em junho, a banda ficou reduzida a dueto. Ao vivo com o apoio de um músico meio escondido na lateral e muita música gravada. Jared entra com o seu largo quimono. Pose de líder espiritual, que se acentua quando abre os braços e dirige as mãos ao céu. As marcas sabem a influência que estas figuras têm nos consumidores e vestem-nos da cabeça aos pés. Quem vinha assim, à procura daquela banda rock, do início de carreira, encontrou uma espécie de evento de moda com boa música. Jared Leto esbanja estilo e desfila no palco como se estivesse na passerelle. Demonstra grande simpatia pelo público, mas na primeira parte do concerto manteve a devida distância, ofuscado por luzes, fumos e escudado atrás dos óculos de sol. Abriram com “Monolith”, o tema que dá o nome a esta digressão, de promoção do álbum America.
O protagonismo é partilhado com Shannon Leto, na bateria. Sem interrupções, continuaram para “Up in the Air” e “Kings and Queens” de álbuns anteriores. Nesta última, a banda abre as portas ao ambiente de festa com balões gigantes e coloridos a pular por cima da plateia.
Os refrões fortes dos temas são cantados pelo público, em euforia. É o caso de “This is War”. Jared Leto passeia a bandeira de Portugal em “Do or Die”, com ar de quem acrescenta novo adereço ao outfit e o público aplaude.
Só a meio do concerto é que tira os óculos e as luzes deixam de ocultar a figura que se tem passeado no palco. O cantor reduz assim a distância do público e dirige a plateia como um bom maestro. Tem resposta imediata quando pede que cantem, saltem ou dancem. A simplicidade e simpatia com que se dirige às pessoas, derrete (ainda mais) os corações.
“Quem quer subir ao palco?” Era a pergunta mais aguardada da noite. A deixa que os admiradores sabem que Jared Leto lança durante o concerto. E pareciam crianças de colo a agitar os braços, a pedir para serem recolhidas. São “pescados” neste mar de gente, dois rapazes e duas raparigas que se abraçam a Jared, num momento de grande emoção. Ficam em palco para “City of Angels” e é quando percebemos que o torso de um deles está tatuado com letras de músicas dos Thirty Seconds to Mars. Até Jared estava incrédulo “Já viste isto, Shannon? São as letras das nossas músicas!!!”.
“Rescue me” tema deste último trabalho é bem recebido por todos e já quase no final da música o vocalista anuncia uma surpresa e começa a chamar o Diogo. Não precisa de grandes apresentações. Afinal de contas é o português Diogo Piçarra que todos conhecem e que vem cantar o último refrão da música. Uma atenção especial ao público português que os Thirty Seconds to Mars não se cansam de elogiar. Jared Leto refere que foi no nosso país que a banda ganhou força para continuar, ao esgotar, pela primeira vez, um grande recinto de espetáculos.
Segue-se “Hurricane” e temos depois um momento a sós com Shannon Leto. O baterista sai do seu “posto” e, com os olhos pregados no chão, caminha até ao centro do palco, pela passadeira, a cantar “Remedy”. Jared regressa ao palco para “The Kill (Bury Me)”, agora mais livre para se movimentar, sem o casulo do seu quimono. O final é em crescendo de emoção e conta com a participação do público.
Em “Walk on Water” Jared Leto interrompe o tema ao aperceber-se de que os seguranças estão a tentar socorrer uma pessoa, na plateia, que se está a sentir mal. Atencioso, pede então a colaboração de todos, para abrirem um corredor, por onde ela possa sair. E só depois retoma o que estava a cantar. Com ar malandro, pede aquele empenho apaixonado especial, dos portugueses, para concluir a canção.
Os Thirty Seconds to Mars fecham com “Closer to The Edge” e muitas pessoas em palco. O vocalista começou por convidar um e outro, da frente de palco, mas o entusiasmo apoderou-se dos que estava nas primeiras filas. Houve confetiis brancos a explodir no ar e o fosso habitualmente ocupado por fotógrafos e seguranças foi invadido por fas, numa harmoniosa coabitação. Todos procuraram registar o momento, daquela que foi, uma experiência diferente do habitual. O objetivo da banda, com esta digressão, parece estar a ser cumprido, ao fazerem com que cada noite seja “inesquecível, louca e divertida”. Um espetáculo feito para o público.
Xande, o músico que integrou a banda More Than a Thousand veio apresentar o seu projeto a solo. Subiu ao palco da Altice Arena, pelas 20h00, para mostrar os temas do seu EP de estreia It is What is, gravado em Toronto, Canadá e editado este ano. Neste curto alinhamento, destaca-se o primeiro single “We’re Bad News”, que já havia gente entre o público que conhecia e acompanhou.