Lotação esgotada, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, para assistir ao regresso de Dulce Pontes. Afastada dos palcos portugueses há uns anos, a artista regressou com uma viagem musical que atravessou várias sonoridades, demonstrando a grande versatilidade da sua voz e timbre. A noite começou tranquila, ao ritmo do piano e terminou frenética, com a artista a dançar descalça. Aplaudida desde que pisou o palco, combinou música tradicional portuguesa com fado, ópera, ritmos africanos e nem o circo escapou a este trajeto de melodias.
“Barquinha”, aquele tema quase infantil foi a primeira canção a ser tocada no CCB. Sentada ao piano, Dulce Pontes é acompanhada pela flauta e o contrabaixo. Este ambiente tão inocente é reforçado pelas bolas de sabão que caem do teto. E a voz de menina que começamos por ouvir dá lugar a outra bem mais madura, para o tema “La Boheme”. A intérprete é sempre a mesma, mas só vendo acreditamos, pois a mudança de registo é total e ainda assim, preenche toda a sala. “Nu” e “ Ondeia” são os temas que combina de seguida e traz a sonoridade para território nacional. As luzes acendem-se de seguida e há um cumprimento mútuo. A artista sopra beijos para a plateia em retribuição da ruidosa ovação.
Dulce Pontes levanta-se, abandona o piano e dança ao que de início soa a dança tribal e acaba por se revelar a tradicional “Senhora do Almortão”. Soam as guitarras em “Bailados do Minho”, convidando os presentes a acompanhar com palmas. Dulce Pontes encerra o tema com um curioso “diálogo” entre vocalizações suas e os instrumentos dos músicos que a acompanham. Fernando Silva na guitarra portuguesa faz-se ouvir em “Ardinita”.
As semelhanças entre o fado e o flamenco são óbvias em “Meu amor sem Aranjuez” que interpreta com toda a emoção e garra. Logo de seguida, volta a mudar radicalmente o registo para pegar num tema de 2009, do álbum “Momentos”. Canta “Júlia Galdéria”, em “homenagem ao meu tio Carlos Pontes” anuncia. O ritmo tão lusitano é suspenso, nos minutos seguintes, para dar lugar a um ambiente quase mágico. Saem as guitarras de palco e mais uma vez assistimos à transformação do ambiente para dar lugar à música Galaico-Portuguesa de Martin Codax. Dulce Pontes não se esgota num estilo ou género. A sua voz adapta-se a diferentes sonoridades, sem perder magnificência. “Soy un Circo” é a surpresa seguinte e todos reconhecemos os sons de um dos espetáculo mais antigos e populares do mundo. De nariz vermelho posto e luzes coloridas a pintar o cenário despido à sua volta, Dulce Pontes continua a conduzir este seu multifacetado espetáculo.
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Zeca Afonso volta a ser evocado esta noite com uma versão de “Índios da Meia Praia”, que a artista havia registado no seu disco “Lágrimas” em 1993. Pelo meio, o CCB tem direito a uma pequena lição de canto desta grande especialista. Mas quem a consegue acompanhar?
“Folclore”, o tema que se segue começa com a guitarra de foles, à qual se junta uma pandeireta. As longas vestes de Dulce Pontes dão agora lugar a saias mais curtas e a artista ganha mobilidade, permitindo-lhe ensaiar uns passos da arte que abraçou na juventude: a dança contemporânea.
“Canção do Mar” é um dos temas mais esperados da noite, anunciado lentamente, pelo súbtil bailado, mas vincado com toda a força da sua voz. Para o encore deixa duas músicas: “Laurindinha” em que a cantora já salta, pula, canta e dança, para depois se entregar a Amália. “Cheia de penas me deito e com mais penas me levanto” canta em “Lágrima”, tema com o qual se despede perante uma plateia rendida à sua poderosa voz.
Dulce Pontes volta a atuar esta quinta-feira, dia 8 de janeiro, no Centro Cultural de Belém e a 17 de janeiro no Coliseu do Porto. Os bilhetes para Lisboa já se encontram esgotados. Para o Porto ainda podem ser adquiridos nos locais habituais e custam entre 12,50 e 30 euros.
Lindo
Um grande espectáculo que tive a honra de assistir! Foi bom, muito bom, matar saudades desta grande artista portuguesa!