A 15ª edição do Marés Viva arrancou ontem, dia 14 de julho, no antigo parque de campismo da Madalena – para onde se mudou o ano passado – para uma primeira noite completamente esgotada, e em que os Da Weasel foram dos nomes em destaque.
No palco principal, a música eclética, sempre em português, cunhava um fim de tarde, que poderia ter sido perfeito, não fosse a chuva que teimou em dar um ar da sua graça, precisamente no início do concerto de Jorge Palma. E por lá ficou, ao longo do espetáculo, com lugar privilegiado, numa vista do céu, a tentar dispersar os festivaleiros à procura de abrigo, entre árvores e toldos de bar. Mas o público sabia bem ao que vinha e, ao invés de abrigar-ce, continuou lentamente a aglomerar-se junto ao palco principal, para o privilégio de ver, na primeira fila, um dos grandes nomes da música portuguesa.
18h30 em ponto, e Jorge Palma aparece em palco, camisa de cores vibrantes, chapéu de palha e um rol de canções. No alinhamento “Cara de Anjo Mau”, “Dá-me lume”, “Estrela do Mar”, “Bairro do Amor”. A batalha da chuva estava perdida, perante um punhado de êxitos que todos sabem de cor. São muitos títulos, muitas canções, muitas letras cantadas a viva voz. E os sucessos continuam “Encosta-te a Mim”, “Frágil”, “Deixa-me Rir”. O recado, à uma densa neblina e a um clima inóspito estava dado: «Essa história não é tua». A história foi a de milhares de festivaleiros, que apesar de ainda ser início de tarde, de uma sexta-feira caótica no trânsito, marcaram presença: 18h30 – Meo Marés – Jorge Palma: um senhor da música portuguesa, que nos brindou com uma presença ligeira e uma energia positiva, ao longo de mais de uma hora. Na altura do adeus, o melhor line-up de sempre: “Portugal Portugal”.
Ai, Portugal, Portugal
Enquanto ficares à espera
Ninguém te pode ajudar
E a fechar a inevitável e insubstituível canção: “A Gente Vai Continuar”. Basta que haja estrada para andar.
Uma estrada que nos conduziu, no anoitecer de ontem, aos “betinhos de Coimbra” (palavras do Tiago Nogueira), os Quatro e Meia. Pois bem, tem tanto de betos, como o facto de serem quatro! Digo eu, que tanto os estimo e cujas canções conheço de fio a pavio. Ver-los crescer, ao longo destes 10 anos de carreira, tem sido um privilégio. É a terceira vez da banda no Marés. Arrancam ao som de “Guarda a Tua Alma para mim”.
Seguem-se “Bons Rapazes”, tema gravado com o Carlão, o cabeça de cartaz que haveria de pisar o mesmo palco, umas quantas horas depois, com os Da Weasel – mas lá iremos. Por ora, seguimos, embalados aos sons dos temas dos Quatro e Meia, com “Canção do Metro”, “Não Respondo Por Mim”, “O Tempo Vai Esperar”. O Tiago e o Ricardo, os dois vocalistas da banda, vão conversando com o público, pedem palmas à instituição dentro da música portuguesa que passou por lá antes deles, o enorme Jorge Palma, e exaltam o facto de uma noite só de música portuguesa, num dos maiores palcos dos festivais nacionais. Pois é, parece que em português nos entendemos e é, simplesmente, fenomenal que assim seja!
A banda segue, com alguns dos seus temas que correm na boca de muitos: “Na Escola”, “Pontos nos Is”, “A Terra Gira”, “Olá Solidão”, “Prá Frente é que é Lisboa”, “Sentir o Sol” e a fechar “O Baile de São Simão”. Lembro-me de, em alguma parte do concerto, terem dito, que deixavam os melhores temas para o fim. Faltou um. E por mim, deveria ser mandatório em todos os concertos da banda, “Adeus, Menino do Barco Negro”, (a fusão de “Adeus, Que Me Vou Embora”, de António Variações; “Barco Negro”, de Amália Rodrigues, e “Menino do Bairro Negro”, de Zeca Afonso.
Os Quatro e Meia passaram o concerto a sublinhar a qualidade musical do palco principal, a que tinha vindo antes e a que viria depois. A mim, cabe-me exaltar a qualidade musical desta maravilhosa banda portuguesa, que há muito não é de Coimbra, é do Mundo.
O registo musical completamente diferente, a palavra dita e cantada continua a ser em português. Slow J. está a inventar uma nova identidade cultural portuguesa? O rapper João Batista dá tudo em palco. Não teme o desenganos, «Para tudo, que eu já f***i isto!» e confidencia o quanto esta noite é especial (e inacreditável) para ele. Naquele palco, umas horas depois haveria de subir a banda que ele viu num primeiro festival, os “Da Weasel” e faltam-lhe palavras para expressar o redemoinho de emoções que tomam conta dele. Acredito! Há momentos que nem os nossos sonhos conseguem superar! Vivê-los é, definitivamente, uma dádiva de poucos.
O artista vai des(a)fiando os seus sucessos e o poder das suas palavras, nos temas dos mais recentes álbuns sLo-Fi (2020) e You are Forgiven (2019), mas regressa também a temas do The Art of Slowing Down (2017).
“A grandeza” inaugura a atuação do Slow J., numa mistura de sons emergentes, que não deixa ninguém indiferente. “Where You, “Teu “Eternamente” ou “Cristalina” vão marcando a sua passagem pelo palco. Chamaram-lhe “poeta da inquietação e da reflexão”…bem verdade, o quanto nos inquieta, o quão nos faz pensar e, acima de tudo, o tanto que nos faz querer ser a melhor versão de nós mesmos. Obrigada por isso!
O melhor estava por vir! Era uma tarefa difícil. Depois de tanto talento passar por aquele palco. Mas os Da Weasel são feitos de impossíveis, que nos gritam que a (boa) música não tem idade, que amar ver o amor de quem canta e dança, com uma paixão estonteante, é Nobre.
A banda entra a matar, com “Loja (Canção do Carocho)”, “A Essência” e “Força”. Mas pouco importa o alinhamento, a escolha dos temas, a montagem do espetáculo. Pacman e Virgul são forças da natureza.
A doninha voltou e ninguém estava preparado, mesmo depois de um regresso já muito esperado e anunciado. Tomem nota nas agendas, para mais tarde recordar: 14 de julho foi o dia da independência da música portuguesa na Madalena!. Nas palavras de Carlão «Isto só com tugas esgotou, porra!»
O Palco Secundário contou com as presenças de Pomadinha, Mónica Teotónio e DJ Ride. Pelo palco Comédia passaram Diogo Barrigana, Hugo Soares, Carlos Vidal e Eduardo Madeira.
O Marés Vivas segue para o segundo dia, com J Balvin, Pablo Alborán, Carolina Deslandes & Barbara Tinoco e Cláudia Pascoal no palco principal. Isto promete!
Ainda há bilhetes à venda, por enquanto, a 45 euros.