Marés Vivas 23 – Dia 2: Do Rosa Choque Popular Ao Preto Chique Latino

Reportagem de Rosa Margarida (texto) e Paulo Soares ( fotos)

Explicar o que aconteceu no segundo dia do Marés Vivas, dia 15 de julho, é algo que vai levar tempo a assimilar. Estariam os festivaleiros preparados para o que foi acontecendo no Palco principal? Talvez!

Não tenho que perder-me em elaboradas explicações e apenas passar-vos a informação do que fomos vendo e do que foi acontecendo, ao longo da noite. Poderá, depois, cada um de vós e, acima de tudo, os que marcaram presença no segundo dia do Marés Vivas explicar-nos se os momentos que se estranham, podem entranhar-se em nós e dizer-nos que afinal, o mais importante, é a música. Sempre, a música.

Às 18h30 sobre ao Palco Principal, a cantora Cláudia Pascoal, metade verde fluorescente, metade rosa choque, numa combinação de esperança e meninice – sou eu que o digo – para apresentar o segundo albúm !!, lançado em maio deste ano. O espetáculo começa com “Isto não é uma Intro”, de Joana Marques e Claudia Pascal, a ser exibido no grande ecrã do cenário.

“Fado Chiclete” e “Assim Assim” foram os dois primeiros temas do alinhamento, ambos do segundo álbum. Num regresso ao seu primeiro albúm !, fazem-se ouvir os primeiros acordes de “Espalha Brasas”, mas problemas técnicos , impediram que a cantora levasse a música até ao fim. Gostámos da forma como vai informando o público deste problema, num cruzamento acentuado de palavras em português e em inglês, que bem poderia originar outra falha, desta feita de comunicação.

A cantora segue com um loop de raiz e Manuela Azevedo ao telefone, para o tema “Precaução”. O espetáculo continua e vai passando pelos temas deste segundo álbum, numa fusão de contemporâneo, popular e futurista, combinando ritmos e batidas, que, ao primeiro ouvido, poderiam fazer pouco sentido. A surpresa estava guardada para a entrada de Marante em palco e o tema “Onde vais Amanhã”, uma colaboração do cantor popular, com a jovem. Foi neste ponto que o espetáculo se descontrolou? Ou foi um descontrolo calculado ainda antes de acontecer? “És a Bela Portuguesa”, de Marante, começa a ecoar pelo recinto e, em segundos, estamos no arraial de S. João, a comer sardinhas e a deixar que o bailarico dite um novo rumo: completamente inesperado. Tempo ainda para cantar, em palco, os parabéns ao Marante e «antes que tudo isto fique muito estranho!»(?) Cláudia está, de novo, sozinha em palco. Seguem-se os temas “Oh Mãe”, “Nasci Maria” e “Música de um Acorde”.

Cláudia Pascoal sabe divertir-se, em cima do palco, e, acima de tudo, sabe divertir e entreter. Vão (talvez) dizer e escrever que a música popular portuguesa não tem lugar num festival como o Marés. “No que nos diz respeito, enquanto nos fizer feliz e, mais importante ainda, enquanto olhar para o lado e perceber que a reação é a mesma por parte de grande parte do público, porque não? Podemos sempre fingir que somos uns elitistas, defensores de coisa nenhuma, para nos ofendermos com o gosto da Claudia Pascoal. Não dizemos que seja de bom ou de mau gosto, mas reflete aquilo que ela é e fá-la feliz. Quantos poderão dizer o mesmo?”

Passamos do rosa choque, para o rosa menina das duas grandes cantoras que se juntaram em palco: Carolina Deslandes & Barbará Tinoco. Criaram um mundo encantado para nos receber, onde não faltam os cavalos rosa, a redoma de vidro e as nuvens de algodão. O espetáculo mais não é do que a combinação da discografia das suas compositoras, na voz de uma e de outra, emprestando canções e deixando que as suas diferentes interpretações das canções, que todos sabem de cor, façam o público trautear cada um dos seus temas.

No alinhamento temas como “Chama Apagada”, “Cidade”, “Paz”, “A vida Toda”, “O Avião de Papel”. Entretanto, os grandes ecrãs que ladeiam o palco assumem o fundo rosa, com um coração no meio, onde os festivaleiros vão sendo exibidos, em momentos de Kiss Cam.

Seguimos com “Antes Dela Dizer Que Sim”, “Não Me Importo”, “Foi Por Um Triz” até “A Saia da Carolina”, a «reinvenção de um tradicional popular», para terminar com “Chamada não Atendida”. Dois temas que não deixam de lado o empoderamento femino, com um duo que resulta bastante bem. No início do espetáculo, a Carolina sublinhou «Bem -vindos ao nosso mundo». Quanto a nós: obrigada por nos deixarem fazer, ontem, parte dele. A amizade, a união e apoio entre mulheres é, infelizmente, complicado, mas a Carolina e a Bárbara são a prova de que quando acontece, genuinamente, é muito belo.

É aqui, que abandonamos laçarotes cor de rosa, infâncias e algodão doce, para mergulhar no mundo de Pablo Alborán. “Não tinha ideia que o músico espanhol conseguia ser tão sexy e sensual. «Minha culpa, minha máxima culpa!»”. Habituada a vê-lo e ouvi-lo no brilhante duo com Carminho, “Perdoname”, pensei que esse fosse o seu registo. Não haveria de penitenciar-se para sempre, não é verdade?

Num pop acústico e num menear de anca, Pablo vai atravessando alguns dos temas de maior sucesso da sua discografia, com um esforço louvável para falar em português com o público. Os festivaleiros sabem os seus temas de cor – seguramente mais preparados do que eu. Do eufórico à intimidade, dos temas bailantes às letras sussurradas, Pablo Alborán reinventa-se e parece-me (mais do que) muito bem!

A fechar, já perto da meia noite do início de um novo dia, uma nave espacial invade o palco do Marés, com oito bailarinas extraterrestres, que haveriam de trocar os trajes, um pouco mais à frente para que o público pudesse perceber que de OVNI tinham muito pouco.

J Baldin surge, no topo da “nave”, ao ritmo de reggaeton colombiano, que o caracteriza.
Para “La Canción”, J Baldin convida três felizardas e eufóricas festivaleiras a sentar-se no palco com ele. Foi por essa altura, que as bailarinas despiram os fatos de E.T. e se apresentaram bem mais provocantes e atrevidas. J Baldin tenta manter um diálogo com o público, num inglês muito sofrível. Haviam de lhe ter dito que somos latinos e que o “Español a nosotros lo va muy bien”. José vai cantando e encantado: o público esteve rendido à atuação do cabeça de cartaz e a noite era de festa! Siga…

No palco secundário, nota para a Lua, Karetus e DJ Older. No palco Comédia Luís Vieira, Carol Brando, Miguel Sousa e Hugo Sousa.

O Marés Vivas termina hoje, em grande, com Xavier Rudd, Fernando Daniel, The Script e os Black Eyed Peas. Até já!

Autor:Texto de Rosa Margarida /Foto de Paulo Soares
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