A Fundação Calouste Gulbenkian revelou-nos os nomes que virão à 34ª edição do Jazz em Agosto, que vai decorrer de 28 de julho a 6 de agosto. Neste ano de 2017, serão catorze os concertos programados para o festival e que certamente contribuirão para aquecer ainda mais as já de si escaldantes noites do pino do verão.
As hostilidades iniciam-se com o saxofonista nova-iorquino Steve Lehman (desconhecemos se tem irmãos) na sexta-feira 28 de julho, com o novo projecto designado Sélébéyone, um termo que, no dialecto africano wolof – segundo a Wikipedia, falado no Senegal, Gâmbia e Mauritânia – significa “intersecção”. Neste contexto, o termo alude à fusão entre jazz e hip hop, já que se trata de uma colaboração com os rappers HPrizm/High Priest (Antipop Consortium) e Gaston Bandimic, um nome que, ao que consta, goza de grande projecção no Senegal. Lehman voltará a estar em destaque na tarde do dia seguinte, desta vez a solo.
Curiosamente, as hostilidades encerram, no domingo 6 de agosto, num tom muito semelhante ao do concerto de abertura, com os High Risk do trompetista Dave Douglas. Apesar de fazer a junção entre os mundos do jazz e da electrónica este não é, apesar do nome, um projecto arriscado: pelo contrário, a ligação entre os dois mundos surge fluída e natural onde, no limite, nenhum dos elementos sobressai ou é dominante face ao outro.
Regressemos à ordem cronológica, brevemente interrompida por este salto (i)lógico para o concerto de encerramento, e deparamo-nos com David Torn, cuja quase interminável lista de colaborações inclui nomes como Madonna, Tori Amos, John Legend e David Bowie, que se lhe referia como o Yo-Yo Ma da guitarra. O guitarrista traz-nos um trio designado Sun of Goldfinger, que conta com a colaboração do saxofonista Tim Berne – que nos visitou o ano passado com os Snakeoil – e o baterista Ches Smith.
De seguida surge-nos o guitarrista Julien Desprez a solo, na tarde de domingo, 30 de julho, num show repleto de ritmo, efeitos e luzes designado Acapulco Redux. Desprez estará novamente em acção no mesmo dia, no espectáculo da noite, inserido na Coax Orchestra. Dirigida pelo compositor e baterista Yann Joussein, esta orquestra bebe tanto das referências que estão na génese do free jazz, como Ornette Coleman, assim como em jazz moderno que cruza com, por exemplo, elementos do rock.
Na segunda-feira seguinte, a guitarra será, uma vez mais, a rainha da noite. Desta vez num registo completamente diferente na medida em que se trata de uma guitarra atípica: uma pedal steel guitar, a especialidade da americana Heather Leigh, companhia do saxofonista alemão Peter Brotzmann. Os dois músicos trazem-nos Ears filled with wonder, exactamente como esperamos sair deste concerto.
Uma menção especial àqueles que terão em mãos a tarefa de assegurar a representação nacional. A primeira representante será a trompetista Susana Santos Silva, que, no primeiro dia de Agosto, nos trará a sua mais recente formação, um quinteto designado Life and Other Transient Storms composto por músicos escandinavos. No dia seguinte, será a vez do Sudo Quartet, ao quala pertence o violinista Carlos Zíngaro, que tocará com os igualmente muito experientes Joëlle Léandre no contrabaixo – e que também conta com uma excelente voz –, Paul Lovens na bateria e Sebi Tramontana no trombone. Finalmente, o contingente português terá a sua última participação na tarde de sábado 5 de Agosto, com o duo português EITR constituído por dois Pedros, um Sousa e um Lopes.
Após o quarteto Starlite Motel, que irá juntar, no dia 3 de agosto, três músicos escandinavos (alguns deles com nomes que levam bolinhas em cima das vogais, e que nem me atrevo a digitar) o americano Jamie Saft, colaborador assíduo de um tal de John Zorn, damos por nós a atingir a recta final da programação.
Chegados que estamos àquele que será o último fim-de-semana do festival, na sexta-feira dia 4, o saxofonista Larry Ochs apresenta-se com os seus Fictive Five. Este é um nome que quase parece saído de um livro de Enid Blyton embora a música seja inspirada e, inclusivamente, dedicada, a nomes ligados ao cinema, como o alemão Wim Wenders ou a americana Kelly Reichardt, bem como ao artista visual sul-africano William Kentridge. Umas horas antes, na tarde do mesmo dia, o contrabaixista Pascal Niggenkemper subirá ao palco a solo, seguramente com o seu estilo desconcertante, a testar os limites físicos e as sonoridades do instrumento.
Este que vos escreve faz agora uma confissão sem, no entanto, ter qualquer intenção de se penitenciar: o momento que aguarda com maior expectativa é o que está reservado para o último sábado do festival. Uma autêntica formação de luxo, com os saxofonistas Chris Speed e Andrew D’Angelo, o baterista Jim Black e o guitarrista Kurt Rosenwinkel. É isso mesmo, caro leitor, adivinhou, trata-se de, nada mais nada menos do que os Human Feel, o quarteto formado por estes músicos de topo enquanto ainda estudantes, e que foi sobrevivendo lateralmente, à margem dos respectivos ilustres e notórios percursos individuais.
Os bilhetes custam entre 12 e 20 euros e podem também ser adquiridos passes para a globalidade do festival, por 100 euros, ou para os fins-de-semana, por 35 euros.
E assim será o Jazz em Agosto de 2017. Como sempre, a rebentar de óptima música. Não sei quanto a vocês, mas para mim avizinham-se seis longos meses de espera.