Rock in Rio – O Primeiro Dia

Reportagem de Tânia Fernandes e António Silva

Mister Entertainment deu um grande concerto na noite de abertura da Cidade do Rock. Robbie Williams cantou os seus grandes êxitos, mas também o de outros, num emocionante coro de milhares de vozes. Pelo Palco Mundo passou também o (muito bem conseguido) dueto Áurea + Boss AC, a estreia de Miss Paloma Faith em território luso e o “tiró-pé-do-chão” bem agitado de Ivete Sangalo.

Quase 60.000 pessoas, de acordo com a organização, estaiveram ontem no recinto do Rock in Rio, pelas 23h00, embaladas pelo coro de Robbie Williams. O Festival de Rock que comemora, nesta edição, o décimo aniversário, é cada vez mais um parque de atrações. Há música, mas também espaços de diversão, brindes para recolher e, nesta edição até fogo de artificio. As portas abriram às 16h00 e a afluência era já elevada. A mancha de pessoas, a fazer lembrar um carreiro de formigas, preenchia o espaço entre a paragem do Metropolitano da Bela Vista e a entrada principal. Também há quem tenha optado pelas duas rodas, como o António Baganha, que posou para nós, no parque de estacionamento das bicicletas, junto à bilheteria. Mas se as bandas só sobem ao palco horas depois o que move esta gente? Carroceis, brindes e outros divertimentos de feira. A verdade é que às 18h00 já era difícil circular em algumas áreas. Frente ao palco só mesmo os poucos aficcionados. A grande concertação de pessoas faz-se no topo do Parque da Bela Vista. “Ai o meu braço!” grita o rapaz a quem deram a difícil tarefa de distribuir chapéus de palha de um dos patrocinadores. A luta é feroz pelos brindes distribuídos em mão. Frente aos espaços de recreio, crescem filas de gente, que, ordeiramente, em linhas que serpenteiam entre a multidão a perder de vista, aguardam pacientemente pela sua vez de receber um sofá insuflável, saltar para um colchão gigante, andar na roda ou atravessar o espaço a deslizar sobre os cabos do slide.

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A música ouve-se mais cedo nos espaços de apoio. A Jazzy Crew, na street dance, trouxe ritmos urbanos, captando a atenção dos ”veraneantes”. Outra das grandes concentrações tem lugar na Rock Street, a rua mais britânica de Portugal, onde estão alguns dos espaços comerciais do Festival. Esta simbiose da londrina Camden Town com a irlandesa Grafton Street traz som a condizer. Ouvimos a RSBB & Laurent Filipe que trouxeram para o espaço alguns dos conhecidos temas dos Beatles e ainda a folk dos Melting Pot. Há quem se divirta com a alegria contagiante destes artistas e quem prefira fazer poses inusitadas com os pouco compostos Guardas Reais da Rainha de Inglaterra.

No Palco Vodafone, os Cais Sodré Funk Connection agitaram um grupo que, dado à inércia, se estendia pelo tapete verde. “Chega à Frente”  incitava Fernando Nobre, o vocalista . “Toda a gente de pé!” dizia de pandeireta na mão, disposto a aproveitar o momento e a não passar despercebido. Entre temas próprios e covers, a banda conseguiu arrancar grande parte das pessoas aos vermelhos sofás insufláveis. Seguiu-se Silva, uma das recentes revelações vindas do Brasil. Som digital, que não conseguiu aquecer o publico.

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Palco Mundo

Uma das surpresas da noite abriu o Palco Mundo do Rock in Rio. O dueto Áurea com Boss AC conquistou o público desde o primeiro momento. Num pingue-pongue de músicas de um e do outro, passaram por uma fusão de sonoridades bem conseguida. O carisma destes dois artistas portugueses, sentiu-se na forma como as pessoas os receberam, acompanhando-os nos temas mais conhecidos, como “Ok, Alright”, “Busy for Me”, “Tu és Mais Forte”, “Scratch My Back” e “Sexta-feira” com os telediscos originais a passar em cenário . Em “Lena”, o tema de Boss AC, Áurea atira-se ao rap, mas com uma doçura na voz, de quem pisa com o pé descalço. É mais um conforto do que uma raiva. “Sinto-me tão Happy” refere a cantora no final da apresentação, dando o mote para um dueto surpreendente do tema de Pharell Williams que deixou o público extasiado. À falta de teledisco, temos as imagens dos ensaios desta grande estreia para ver.

Paloma Faith, a jovem cantora inglesa foi a diva que se seguiu, numa estreia absoluta em Portugal, a cantora apresentou os temas do mais recente “A Perfect Contradiction”. Num quadro muito composto, em que todos os elementos da banda envergaram trajes de xadrez vermelho, a cantora esforçou-se por conquistar o público português. Trouxe a cábula com umas frases que debitou como conseguiu, disse que adorava pastéis de nata, pulou e dançou, mas não convenceu. Apesar de admitir estar doente, a sua capacidade vocal é enorme e a sua prestação não saiu minimizada por isso. Pharell Williams parece ter sido o ausente mais presente, chamado “a este baile” a propósito de “Can’t Rely on You”, o tema que o americano escreveu e produziu para ela. Paloma Faith revelou também o seu lado mais romântico e nostálgico com “Crazy Love” de Van Morrison, um tema, que a própria admitiu que cresceu a ouvir.  Despediu-se com o belíssimo “Only Love can Hurt Like This”.

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Às 22h00 o recinto encontra-se preenchido, salpicado de cor dos adereços distribuídos pelos patrocinadores. Há perucas luminosas, paus tricolores que se agitam no ar. Dois minutos de fogo de artificio estrategicamente colocados no Palco Mundo assinalam o 10º aniversário deste grande Festival em Portugal. Mas o fogo por quem todos anseiam chega a seguir. “Let Me Entertain You” avisa à chegada. E é mesmo isso que acontece na hora e meia seguinte em que ele toma conta do palco. O espetáculo, formatado para o modelo Festival, resulta em grande, com o cantor a passar pelos seus temas mais sonantes, a cantar alguns dos mais recentes de “Swing Both Ways” e a ligar tudo com grandes êxitos de outras bandas. Ainda que o corpo não tenha a definição de tempos idos, ele mexe-se bem e, admite no final, “cansa-se muito mais”. É um sedutor nato que olha o público nos olhos, fala para quem está ali a assistir e interage sistematicamente com a imensa plateia de quase 60.000 que assiste, como se dirigisse a cada um individualmente. Atravessa “We Will Rock You” dos Queen com “I love Rock’n’Roll” de Joan Jett & The Blackhearts, descarrega energia em “Rock DJ” para depois cruzar “Come Undone” com “Walk on the Wild Side” de Lou Reed a sair em “I Still haven’t Found What I’m Looking For” dos U2. O espetáculo é uma autêntica caixa de surpresas, em que o público está sempre a ser sacudido. Mesmo o registo muda totalmente. Robbie junta-se a outros quatro membros da banda e, de instrumentos desligados cantam à capela, fazendo com que se sinta a magia dos tempos idos da rádio ao vivo. Nova Iorque é celebrizada com a fusão de duas célebres músicas: uma dada a conhecer por Alicia Keys e aqui instroduzida por Denosh, que continua pela perceção de Frank Sinatra da cidade que nunca dorme. “Hit the road, Jack”, de Ray Charles e “Reet Petite” de Jackie Wilson é outra das combinações da noite, a picar os ritmos de outras décadas. “Wonderwall” dos Oasis, também aqui recordado, é cantado de forma tão intensa pelo público que antes de se despedir, Robbie Williams ameaça, “Se não cantarem assim a próxima, estão lixados!”. É o mote para “Angels”, que vem depois de “Feel”, dois dos grandes êxitos do cantor.

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Ivete Sangalo, presença assídua neste Festival fechou o Palco do Mundo com muito carnaval e “tira-o-pé-do-chão”. Também ela foi ao gira-discos e trouxe, num ritmo mais quente, o “Careless Whispers” dos Wham. Com indumentária mínima, à la Beyoncé, a cantora acabou descalça, frenética, sempre a pular. Do alinhamento, fizeram parte os êxitos que a levaram ao patamar do sucesso “Eva”, “Quando a Chuva Passar” e “Flor de Reggae”. “Festa”, “Sorte Grande” e “Dinheiro” foram as últimas músicas que cantou e dançou, nesta edição, no Palco do Mundo.

Quem não esgotou por aqui energias, ainda seguiu para a Tenda eletrónica, onde, a noite continuou até às 4 da manhã. A cidade do Rock volta a abrir as portas na próxima quinta-feira, dia 29 de maio, com anunciada casa cheia.

 

 

 

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