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Roger Waters Dá Música À Política

Foto: Facebook

Porcos e ovelhas pelo ar, imagens e relatos chocantes de guerra, contestações e temas quentes, tudo isto ao som dos melhores temas dos Pink Floyd. Quem foi à Altice Arena, para assistir ao concerto de Rogers Waters, trouxe de bónus uma dose generosa de realidade, em registo de documentário.

É pela música – que conquistou várias gerações – que encheu o recinto, esta sexta-feira (regressa este sábado para mais uma dose). Mas Roger Waters não se limita a proporcionar uma viagem pelo tempo à boleia da nostalgia. Quer marcar a sua posição. Abraça causas e assume-o de forma pública. Não hesita em disparar sobre várias frentes.

Chegou a Lisboa com um rasto de notícias de contestação às suas posições e cancelamentos de espetáculos. Porque toma partidos e assume a sua opinião sobre os acontecimentos mundiais.

Aos 79 anos continua a fazer música e a ser rebelde, com muita ironia e humor. O espetáculo que chegou agora à Europa é uma grande produção, carregada de detalhes tecnológicos. Com o palco colocado no meio do recinto, o público ganhou em proximidade com os oito músicos, que se distribuem por todas frentes. Em boa forma física, Roger Waters circulou por todos os pontos cardeais e fez questão de cumprimentar todo o público em redor.

Anunciada como uma digressão de despedida, o alinhamento desta This is Not a Drill, estende-se pela longa carreira do músico e inclui os conhecidos temas dos Pink Floyd, como “Comfortably Numb”, “Another Brick in the Wall”, ou “Wish you Were Here” , mas há também espaço, para temas mais recentes, como “The Bar”, que o músico escreveu no período de pandemia. E se os temas que o colocaram no mapa das celebridades da música tem direito a grande cenário audiovisual, para a mais recente usa simplesmente um piano e reúne os músicos à sua volta, como se estivesse a trocar impressões, numa noite de copos, num bar.

As mensagens acutilantes são servidas em doses fascinantes de audiovisual. Sequências de animação irrepreensíveis que desviam o nosso foco da música para o gigante videohall que coroa a banda. Ao longo de toda a noite há uma espécie de narrador que vai falando conosco, através de legendas. É sarcástico e é como se estivesse ali ao lado, por vezes a partilhar histórias antigas do início dos Pink Floyd como em “Wish you Were Here”, noutras a dar detalhes, nomes, localizações de acontecimentos reais absolutamente condenáveis e camuflados por governantes.

A música conforta-nos mas as imagens levam-nos para o desconforto. Aponta o dedo a todos os presidentes dos EUA, sem exceção, enquanto nos agita com” The Bravery of Being Out of Range”. A todos atribui o rótulo de “criminosos de guerra”.

Quer cumprimentar o público, em língua portuguesa, mas diz que ainda não aprendeu a dizer “good evening”. Continua em modo de cortesia quando diz que sabe que “esta vai ser uma boa noite, pois já toquei em Lisboa e adoro esta cidade!”.

Roger Waters
Foto: Facebook

O espetáculo foi dividido em duas partes, com um intervalo no meio. A fechar a primeira parte, uma evocação das conhecidas obras da literatura como Animal Farm e 1984 de George Orwell, assim como Brave New World de Aldous Huxley introduzem “Sheep”, que traz também o primeiro animal voador na noite para a Altice Arena. Depois do intervalo, o porco com a inscrição “fuck the poor” terá ficado registado em todos os telemóveis que entraram no recinto.

Foram cerca de duas horas e meia de concerto, repletos de intensidade. Mais uma vez, o desconforto a instalar-se com as imagens de drone e o relato da morte dos repórteres da Reuters no Iraque, ao som de “Run Like Hell”.

A despedida foi um momento emotivo, em que Roger Waters juntou, mais uma vez, os músicos no “seu bar”, junto ao piano, para recordar o irmão mais velho falecido este ano (partilha imagens da família nos ecrãs), fala de Bob Dylan como referência (ao brincar que “roubou” umas palavras ao colega para construir a música) e identificou, com orgulho, a presença da mulher, esta noite a assistir ao concerto.

Os músicos abandonaram o recinto, em indiana, com a versões portáteis dos seus instrumentos e terminaram o tema em backstage, com um grandioso aplauso do público que acompanhou este final através dos ecrãs.

Uma noite repleta de emoções fortes, combinadas com grandes temas e muito calor humano.

Este sábado, Roger Waters volta a atuar na Altice Arena. O concerto está agendado para as 21h00. Para a sessão de hoje já só há bilhetes disponíveis para a plateia (85 euros) ou balcão platinum (150 euros).

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