Anzv E Dallian Na Noite Quente De Alvalade

Reportagem de Diana Silva (fotografia) e João Barroso (texto)

Anzv
Anzv

Noite quente, em Alvalade. Uma espécie de verão antecipado que fazia prever, como se confirmaria, boa afluência de público ao RCA Club, para saborear o cardápio musical proporcionado pela Notredame Productions: Anzv e Dallian, duas bandas portuguesas que, pode dizer-se, ainda dão os primeiros passos, mas representam, já, valores seguros, dentro dos seus respetivos géneros musicais.

A abrir as hostilidades, pouco antes das 22h, os leirienses Dallian, embaixadores do movimento Steampunk nacional e cujo disco de estreia, o Automata, foi uma lufada de ar fresco, no que diz respeito ao cenário Death/Prog praticado cá no burgo. A formação da cidade do Lis, composta por André Fragoso (bateria e percussão), Leandro Faustino (guitarra), Ricardo Carniça (guitarra e voz) e Carlos Amado (guitarra, voz e guitarra portuguesa), parece ter um novo álbum na forja, mas ainda é o registo de 2018 que se canta e que encanta a plateia.

O som que se escuta é Death e é progressivo, incorporando elementos de metal sinfónico, guitarra portuguesa e Fado. “Caixa Pensatória”, “Corrupt Demiurge” e “As Within, So Without” foram alguns dos temas que se fizeram ouvir, sendo que, pelo meio, antes de introduzir “The Nun from Azrael”, Carlos Amado fez questão de perguntar se haveria alguma freira na sala, mesmo que incógnita e desprovida do hábito.

Cerca de uma hora de concerto que, muito mais do que aquecer a plateia para o que se seguiria, deixou a certeza de que nos queremos voltar a cruzar com Dallian.

Às 23h15, ou perto disso, soaram as badaladas e entraram em cena os misteriosos Anzv.

Messe Noire.

O ritual, conduzido por Ahnum, uma espécie de sacerdote negro, de cara tapada, descalço e com vestes de penitente, como se se tratasse de um farricoco, saído diretamente do Antigo Testamento, incluía velas, incenso e adagas. Sentia-se que nos estavam a preparar para uma espécie de purga. Toda esta encenação conduziu-nos até tempos longínquos, porém, aos primeiros acordes de “Leper”, foram os frios ventos do norte que nos assaltaram: o som da banda do Porto incorpora elementos do Black e do Death mais tradicionais, mas com um toque moderno e nuances que nos transportam até à antiga Mesopotâmia.

Seguir-se-iam “Isimud”, “Rituals” e “Lethargy”, numa viagem constante através de Gallas, o primeiro registo de estúdio de Anzv, lançado em setembro de 2022, através da editora Exorcize Music.

Entretanto, “Remnants”. Por esta altura, Ahnum já havia descoberto o rosto e alguém resolvera abrir um circle pit, quebrando o transe provocado pelas notas e aromas musicais que inundavam o RCA Club. Depois, “Repentance”, “Seclusion” e “Inane”. E um fiel, ajoelhado no chão da sala lisboeta, de mãos erguidas, como que evocando os seus deuses. A celebração terminaria com “Mist”, uma névoa de desespero que nos invadiu o espírito.

Ahnum e os seus acólitos (E. na bateria, Trevash no baixo, M. e N. nas guitarras) abandonaram o altar e nós saímos da homilia com a crença renovada.

Pedem-se mais noites quentes (e frias) como esta.

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