11. Para Que Serve Uma Catedral?
O património cultural do coração de uma cidade e o estado em que se encontra, é revelador da sua História e da maneira de ser dos seus habitantes. Sim, é um chavão, mas é para ganharem balanço.
Ao passear pelas ruas do centro das terras por onde andamos conseguimos perceber de que forma a mesma se abre a quem lá vive ou visita. Em Praga sentimos frieza nas ruas e na maioria da população que nos recebe ao contrário de Sevilha. Aqui pressente-se um clima de festividade permanente. As suas ruas, igrejas, arquitetura e lojas históricas espelham tudo isso.
Em Paris o seu coração não bate no Louvre ou na Torre Eiffel mas sim na Catedral de Notre Dame ou na Ile de Paris, um pequeno pedaço de terra onde se iniciou a construção deste templo religioso há quase mil anos atrás. Mas não só. Foi aqui que a Capital francesa começou a abrir-se ao mundo transformando-se num símbolo da cultura europeia. Mesmo que a construção só tenha acabado quase duzentos anos depois, ao entrarmos na catedral sentimos a antiguidade da civilização europeia e de inúmeros momentos históricos que marcaram a História de França e do continente europeu. Assim aconteceu com a coroação de Napoleão ou o fim das guerras mundiais.
No dia em que escrevo esta crónica tudo isto se perdeu na sua materialidade. O fim da catedral francesa tal como a conhecíamos é um momento de desastre da nossa História. Sente-se algum alívio ao pensar que foram salvas algumas obras de arte e relíquias da arte sacra, mas, o património histórico é muito mais do que isso. Embora a Notre Dame tivesse várias intervenções desde a sua inauguração no século XIV, ao entrar ali sentíamos a patine do tempo provocada pelo seu teto de madeira e pelo traço gótico. É bom sabermos que a reconstrução está já a ser pensada e os recursos financeiros não vão certamente faltar. Mas não vai ser a mesma coisa. Esta reabilitação feita no presente nunca irá trazer de volta aquele pináculo nem o tempo antigo que ali existia.
Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.
N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor