Crónica: Cultura Para Todos

Por Óscar Enrech Casaleiro

11. Para Que Serve Uma Catedral?

O património cultural do coração de uma cidade e o estado em que se encontra, é revelador da sua História e da maneira de ser dos seus habitantes. Sim, é um chavão, mas é para ganharem balanço.

Ao passear pelas ruas do centro das terras por onde andamos conseguimos perceber de que forma a mesma se abre a quem lá vive ou visita. Em Praga sentimos frieza nas ruas e na maioria da população que nos recebe ao contrário de Sevilha. Aqui pressente-se um clima de festividade permanente. As suas ruas, igrejas, arquitetura e lojas históricas espelham tudo isso.

Em Paris o seu coração não bate no Louvre ou na Torre Eiffel mas sim na Catedral de Notre Dame ou na Ile de Paris, um pequeno pedaço de terra onde se iniciou a construção deste templo religioso há quase mil anos atrás. Mas não só. Foi aqui que a Capital francesa começou a abrir-se ao mundo transformando-se num símbolo da cultura europeia. Mesmo que a construção só tenha acabado quase duzentos anos depois, ao entrarmos na catedral sentimos a antiguidade da civilização europeia e de inúmeros momentos históricos que marcaram a História de França e do continente europeu. Assim aconteceu com a coroação de Napoleão ou o fim das guerras mundiais.

No dia em que escrevo esta crónica tudo isto se perdeu na sua materialidade. O fim da catedral francesa tal como a conhecíamos é um momento de desastre da nossa História. Sente-se algum alívio ao pensar que foram salvas algumas obras de arte e relíquias da arte sacra, mas, o património histórico é muito mais do que isso. Embora a Notre Dame tivesse várias intervenções desde a sua inauguração no século XIV, ao entrar ali sentíamos a patine do tempo provocada pelo seu teto de madeira e pelo traço gótico. É bom sabermos que a reconstrução está já a ser pensada e os recursos financeiros não vão certamente faltar. Mas não vai ser a mesma coisa. Esta reabilitação feita no presente nunca irá trazer de volta aquele pináculo nem o tempo antigo que ali existia.

Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.

N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor

Artigo anteriorJames Bay Apresenta Novo Disco No Porto
Próximo artigoO Físico Prodigioso De Jorge De Sena Ilustrado Por Mariana Viana Em Exposição No El Corte Inglês De Lisboa

Leave a Reply