Crónica: Cultura Para Todos

Nº 12 – Para que serve a Memória Histórica?

Sempre gostei de História. Eu sei, pode parecer estranho, mas é verdade. Isso sempre aconteceu porque ao contrário de muitos colegas, que decoravam os factos e as datas, sempre gostei de perceber porque é que determinados povos tinham determinadas características coletivas e o que motivou os acontecimentos que acabaram por influenciar a cultura do nosso país de uma forma tão intensa. Por isso continuo sem entender o que leva o nosso sistema de ensino a não colocar esta área do saber no lugar determinante onde merecia estar. Claro que surge sempre a mesma pergunta quando se fala da relevância desta disciplina: um historiador só pode dar aulas, não serve para curar vidas, construir pontes ou casas. Em resumo, a História não dá futuro a ninguém?

No entanto, o domínio da História é uma competência imprescindível para entender o tempo presente, por uma razão muito simples: a História repete-se, o passado recicla-se para o presente. Tudo o que está a acontecer aos nossos olhos tem um sentido que só o fio do passado pode explicar. Vem isto a propósito do assalto dos movimentos de extrema-direita aos parlamentos europeus. Devagar, devagarinho, ao longo desta década a sua força foi aumentando de tal forma que só Portugal e outros três países ainda não lhes deram licença para entrar nos seus parlamentos. Na agenda noticiosa tudo isto parece estar a acontecer de forma normal, entre as inundações da California, um campeonato do mundo de futebol e uma visita do Papa a Fátima.

É muito estranha a forma como, depois das eleições que têm dado força a estes movimentos, tudo isto parece estar normalizado no euromundo. Separo estes casos da política conservadora democrática, não se trata disso, mas apenas dos valores civilizacionais que os partidos extremados põem em cheque: o ataque cerrado às minorias e aos mais fracos. Apetece perguntar: então o que se passou com estes eleitores, esqueceram-se que foi devagar, devagarinho que tudo começou há menos de 100 anos?
Mas quero terminar com uma novidade positiva: a inauguração do Museu Nacional da Liberdade e da Resistência que agora ocupa a icónica Fortaleza de Peniche. A anterior prisão do regime, onde durante demasiados anos se decidia calar e torturar quem pensava de outra forma, é agora um espaço de celebração da Liberdade. Haja coragem para ir além da “reconstituição histórica” das anteriores funções do local para tornar este museu num lugar de debate e educação cívica.

É divertida esta ironia da História.

Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.

N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor

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