Crónica: Cultura Para Todos

Nº 33: Para Que Servem As Utopias Na Cultura?

Sempre tive uma grande simpatia, e alguma pena, pela figura de  D. Quixote desde a primeira que contactei com esta história durante a minha infância. Não só pelas minhas raizes espanholas, que faziam com que fosse uma referência sempre presente, mas sobretudo pela série de animação espanhola que adaptava de forma primorosa esta grande obra de Cervantes (será que é preciso uma produtora espanhola adaptar Os Lusíadas?). O tom era obviamente mais ligeiro e adaptado ao público infantil, mas a essência da obra estava lá – a metáfora da utopia, dos sonhos que nos levam a lutar por projetos mesmo que eles nos pareçam praticamente inalcançáveis-.

O setor da Cultura, não é novidade para ninguém, é aquele em que a probabilidade de ter lucro é tão grande como a de Joacine Katar- Moreira se tornar a melhor amiga de André Ventura, é por isso o cenário ideal para se tentar por em prática projetos, à partida, utópicos. Exemplo disso é a candidatura de Leiria a Capital Europeia da Cultura em 2027. Não se trata “apenas” de uma candidatura como as anteriores mas conta com uma relevante diferença: a participação de 25 municípios que se associam à cidade do Liz, para partilha de recursos e criações artísticas. Certamente que cada uma terá um contributo adequado à sua dimensão, mas, num país onde o trabalho em rede é tão escasso já se trata por si um óasis. 

Em paralelo, Leiria recebeu a chancela da UNESCO de Cidade Criativa da Música: uma recompensa para as inúmeras bandas filarmónicas e escolas de música do concelho que se têm vindo a notabilizar pela sua ação, e onde a SAMP e o Orfeão de Leiria ganham particular destaque. Mas há mais belas utopias em processo de concretização. Outro bom exemplo é o de Óbidos, a vila das livrarias desde 2013, e carimbada como Vila Literária pela UNESCO. Uniram-se espaços municipais no centro da vila ao acervo de um livreiro, juntou-se um festival dedicado à literatura que já tem alcance internacional e temos uma nova utopia concretizada.

Para além das receitas financeiras, estas utopias trazem visibilidade e reforçam a identidade  destes territórios. A prova que valem a pena.  

Por Óscar Enrech Casaleiro – Comunicador cultural desde 1997, atento à atualidade desde sempre.

N.R.: Esta crónica tem periodicidade quinzenal e é da inteira responsabilidade do seu autor

Artigo anteriorSugestões Para O Dia Do Pai 2020
Próximo artigoZero Em Comportamento Disponibiliza Filmes Online

Leave a Reply