Joana Vasconcelos foi convidada pelo anterior secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas, a criar um projeto para representar o país em Veneza e ser a responsável pela representação oficial do nosso país, depois de já ter apresentado vários projectos na Bienal, este ano com a condicionante acrescida de o nosso país já não ter pavilhão no Lido, o que obrigava à partida a uma nova solução.
A artista pensou então em “transformar uma emblemática embarcação portuguesa num espaço expositivo e ao mesmo tempo numa obra de arte”. “Depois de vários contactos com a Bienal de Veneza e com as autoridades locais, conseguimos autorização para ter o nosso projecto no cacilheiro, e até atracá-lo nos Giardini, uma zona nobre da exposição internacional”, sublinhou.
Joana Vasconcelos disse também ter conseguido autorização para que o barco se desloque durante a exposição e transporte um máximo de 75 passageiros em Veneza. “Com este pavilhão flutuante, Portugal vai ter a possibilidade de ter mais visibilidade numa exposição muito competitiva, com projectos de cerca de 90 países”, salientou Joana Vasconcelos aquando a apresentação do projeto.
Atualmente o cacilheiro Trafaria Praia está no estaleiro Navaltagus, no Seixal e foi cedido pela Transtejo à artista, para ser transformado numa obra de arte itinerante, vai ser revestido por fora com azulejos portugueses, com uma vista de Lisboa, desde a Torre do Bugio à Torre Vasco da Gama, e no interior vai ser revestido de cortiça e de intervenções em têxtil e com elementos luminosos reminiscente de obras típicas como as da série Valquírias ou Contaminação , explica a artista, especificando ainda que “Esta peça compõe-se de coloridas formas orgânicas feitas à mão em croché e outros tecidos, incluindo feltros de Nisa, que incorporam fiadas de lâmpadas LED. Tais estruturas emergem das paredes e do teto, “envolvendo” os visitantes numa atmosfera “uterina”, tão estranha quanto familiar, que suscita uma experiência tanto intelectual como sensorial”.
O piso superior vai ser alterado de forma a criar uma zona aberta, onde serão realizadas palestras, mesas redondas e concertos com artistas portugueses, e múltiplos eventos. Destaca-se a programação dos dias inaugurais da Bienal de Veneza, protagonizada por compositores e intérpretes de expressões musicais variadas, desde o fado à eletrónica improvisada. No interior será instalada uma loja, com produtos nacionais através de uma parceria com a marca A Vida Portuguesa, da empresária Catarina Portas.
A DGArtes disponibilizou para esta representação a quantia de 175 mil euros, valor este abaixo do que habitualmente é dado, e que o Secretário de Estado da Cultura Barreto Xavier explicou como “resulta da necessidade da redução da despesa do Estado”, tendo depois apelado à adesão dos privados para apoiarem o projecto, que, segundo a artista, exigiria quase o dobro para concretizar tudo o que idealizou.
“Já temos alguns apoios privados concertados, e esperamos que surjam outros”, comentou Joana Vasconcelos, acrescentando que não tem ainda determinado o valor total dos custos.
O cacilheiro vai ser transportado até Veneza por via marítima em cima de uma embarcação e vai ter o acompanhamento de um helópetro até chegar a Veneza, onde este “pavilhão flutuante” vai ser inaugurado a 31 de maio, um dia antes da inauguração oficial da Bienal de Arte de Veneza 2013 e a curadoria do projecto é da responsabilidade de Miguel Amado.
O cacilheiro Trafaria Praia transportou 11 milhões de pessoas durante 51 anos , vai ser agora transformado em obra de arte e voltará a ser usado em Veneza, manobrado por quatro tripulantes da Transtejo.
Texto de Clara Inácio Imagens gentilmente cedidas pelo atelier de Joana Vasconcelos