Jorge Ben Jor Cavalgou Um Sem Número De Êxitos No Hipódromo De Cascais

Por Daniel Carvalho

O cantor Jorge Ben Jor encerrou o festival EDP CoolJazz deste ano, no sábado 30 de julho, enchendo o Hipódromo Manuel Possolo, em Cascais, de boa disposição. Atuando depois da jovem Jéssica Pina, cantora e trompetista, e do trio do baterista Francisco Gomes, o lendário músico brasileiro, com uma carreira que se estende até ao início dá década de 60 do século passado, trouxe uma enxurrada de temas clássicos, que povoam o imaginário colectivo e que têm o condão de pôr toda a gente a cantar e a dançar.

O pontapé de saída para aquele que foi primeiro concerto do músico no pós-pandemia ficou a cargo de “Jorge da Capadócia”. Logo de seguida, “Para Animar a Festa” foi uma espécie de grito de guerra que, de imediato, estabeleceu a fasquia para o que viria a seguir. Como não podia deixar de ser, os espectadores rapidamente deixaram as respectivas cadeiras, que, abandonadas, ficaram a observar os respectivos donos a dançar e a cantar. Ben Jor vira-se para os músicos – que, todos vestidos de branco, pareciam participar num anúncio a detergente da roupa ou lixivia – e mexe os braços como se fosse um maestro a dar instruções, aponta para aquele que faz um solo para lhe ainda maior destaque. E, sobretudo, parece divertir-se e retirar energia do espectáculo, da mesma forma que os espectadores.

Os êxitos sucederam-se, em catadupa, para gáudio dos que estiveram no recinto. Algures a meio do alinhamento, como se a noite veranil não estivesse já suficientemente quente, Ben Jor, qual fenómeno associado a alterações climáticas, subiu ainda mais o termóstato e elevou a temperatura, bastando-lhe para tal tocar os primeiros acordes de “País Tropical”. O público reagiu de imediato à música que, no fundo, é mais do que uma música: é um verdadeiro hino à «brasileiridade», que põe um sem número de bocas a trautear os famosos versos “moro num país tropical, abençoado por Deus, e bonito por natureza” e um ainda maior número de pernas a dançar ao mesmo tempo.

Outro dos destaques da noite foi o tema “Fio Maravilha” – aquele que este que vos escreve mais queria ouvir –, imediatamente após “Umbabaraúma”, cujo título dá quase tanto gosto a escrever como a audição da própria música que designa. Houve ainda oportunidade para tocar o tema “Do leme ao pontal”, de Tim Maia, uma sentida homenagem a outro dos grandes (e sem body shaming) vultos da música popular brasileira e, em particular, do Rio de Janeiro.

Estamos agora a aproximar-nos, lentamente, do último terço do espectáculo. Ben Jor reservou algumas pérolas, puxou um ás da manga e ouvirmos a história de amor descrita em “Taj Mahal”, com um refrão contagiante. Pouco depois, é a vez do tema mais calmo “O homem da gravata florida”, cantado apenas com o acompanhamento do piano digital. Parecia vir refrescar o público fervilhante e colocar água na fervura, como a balada que encerra a pista de dança de uma discoteca, ao mesmo tempo que os empregados enviam missivas indirectas ao colocar as cadeiras em cima das mesas, com as pernas para cima. Afinal não: o brasileiro regressou ao microfone para confidenciar que tinha ainda cinco minutos de música pela frente. Foi uma introdução original para um encore, que terminou com “Take it easy my brother Charlie”, uma bela forma de despedida.

No total, o concerto ficou muito perto de atingir as duas horas de duração. Mas, a julgar por Ben Jor, o brasileiro estaria disposto (quiçá desejoso) de continuar a tocar por ainda mais algum tempo. Eu, que tenho aproximadamente metade da idade do cantor brasileiro, senti os cotovelos a acusar a dor que é própria dos mesmos, perante tamanha demonstração de vitalidade e energia. E eu, que moro num país mediterrânico, não me teria importado rigorosamente nada ter sido abençoado com mais alguma música – algo me diz que não o único a achar o mesmo.

Em 2023, o festival regressa para a 18ª edição, num retorno ao formato original COOLJAZZcool by nature, e com nova imagem.

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