Mário Coelho Vence Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II

O ator, encenador, dramaturgo e também produtor dos seus próprios espetáculos, Mário Coelho foi o vencedor da 2ª edição do Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II. O galardão de caráter anual que pretende reconhecer e promover os talentos emergentes no panorama teatral.

“Estou muito feliz e bastante surpreso, por ter sido tido em consideração, sequer.” referiu Mário Coelho em entrevista, no final da cerimónia, à comunicação social “Tenho feito um trabalho mais independente, num circuito underground, por assim dizer, mesmo em termos de espaço onde é apresentado. Acaba também por ser uma vitória do teatro e da criação independente.” Valoriza, na sua linha de criação, “a possibilidade das pessoas se deslocarem para outro tipo de espaço e para outro tipo de conteúdo. Acho que já procuram isso. A cultura é um espaço tão mais amplo do que aquilo que às vezes conhecemos, que é falado ou que é publicitado. Nesse sentido, fico muito feliz de ter feito um percurso mais nesse caminho e de ter tido esse reconhecimento”.

Eleito por um júri composto por treze profissionais representativos de diversas áreas associadas ao meio artístico e cultural português, Mário Coelho recebeu o Prémio numa cerimónia que decorreu na Sala Garrett do Teatro Nacional D. Maria II, durante o mês de maio.

O Prémio tem um valor pecuniário de cinco mil euros e é atribuído anualmente a um profissional de teatro, que tenha até 30 anos de idade, e cujo trabalho artístico se tenha destacado no ano anterior à atribuição do Prémio.
A tarefa revela-se ainda mais extraordinária, num ano atípico, marcado pelo encerramento de teatros e limitação da atividade. Mario Coelho partilha os seus receios “Assusta-me o quão frágil é o sistema em que nos encontramos. Quando viemos todos para casa, confesso que nas duas primeiras semanas, foi assustador. O que é que vai ser esta nova realidade? O que é que é o teatro? O que é que é a arte? É tudo muito estranho. De repente não podemos estar uns com os outros. Tive a sorte de passar o confinamento com dois amigos. Acabamos por ter uma ideia de criar uma websérie que refletisse o que estávamos a viver e levá-la a um ponto em que também conseguíssemos rir do quão assustador era tudo isto que estávamos a passar. Surgiram novas formas de comunicar, como o zoom, e fomos descobrir como é que agora usamos isso.”

Falámo-nos também de novas formas de fazer teatro: “Em dezembro fiz um espetáculo que já tinha sido apresentado em 2019 e que eu continuei em 2020 o Fuck me Gently, no CCB. Senti que era um objeto completamente diferente, pois era fruto destes tempos que vivemos. A partir do momento em que temos dois metros e meio de distância entre o público, as pessoas entram por ordem, nós ensaiamos com máscara e eu só vi a cara de pessoas, que por acaso conheço, no ensaio geral, depois de termos feito teste. Eu e outras pessoas ainda estamos a tentar perceber o que é que vai ser isto daqui para a frente.”

Mario Coelho – Premio Revelação

Mário Coelho nasceu em Lisboa em 1994 e entrou na Escola Superior de Teatro e Cinema, em 2012.

Estreou a sua primeira criação, É possível respirar debaixo de água, em 2015, na galeria Manteigaria Lisboa e, desde aí, encenou já seis criações próprias.

Em relação às perspetivas para os que estão agora a sair do Conservatório, e a começar a fazer teatro, comenta que “É muito assustador pensarmos no mercado que temos e no número de pessoas que, de ano para ano, estão a entrar e estão a iniciar o seu caminho. É uma pena que a maioria, ao sair da escola, não tenha oportunidade de desenvolver esse trabalho. O que eu acho é que o teatro começa a ir por outros sítios: começa a ser apresentado em armazéns, galerias e outras salas mais pequenas. Depois pois há uma série de fatores em que eu acredito, como o trabalho, acima de tudo. Trabalhando e persistindo a coisa eventualmente tem de acontecer. Temos criadores incríveis, da minha geração, mais novos e mais velhos, que verdadeiramente mostram e refletem o mundo em que vivemos. Sinto que esta minha geração vem com essa luta, com essa garra, essa voz e essa vontade de lutar.”

Quisemos ainda saber se já tinha que planos para investir o montante ganho com o prémio. “Assim que soube deste prémio, decidi que ia ser usado numa nova criação de teatro que vai ser apresentada no próximo ano. Ainda não tem qualquer tipo de apoio, Estou a começar a tentar perceber em que moldes é que vamos trabalhar. Este prémio faz-me sentir que estou acompanhado. Sei que, quando disseram “Mário Coelho” a maioria há-de ter pensado “mas quem é este?”. Espero que se duas ou três pessoas acabarem por ir pesquisar ou, numa próxima oportunidade, forem ver um espetáculo, se calhar já houve um crescimento, de certa forma. O teatro e a arte é mesmo isso. É o passa palavra, a extensão das coisas que vão acontecendo. É tão feito desse acaso ou desse encontro. Espero que daqui possa trazer isso. O meu maior sonho é poder fazer o meu trabalho em liberdade. E poder pagar às pessoas (risos)!”

Sobre a forma como que vai dar continuidade à sua criação, inclina-se mais para projetos multidisciplinares: “Penso que o meu trabalho está muito ligado ao cinema. Eu procuro trazer o cinema ao teatro. Acho que, cada vez mais, existem projetos multidisciplinares. A categorização não interessa assim tanto. Temos ainda muito enraizada a ideia da caixa, do “isto é isto”. A mim, interessa-me cada vez mais esbater essas ideias, dar a beber e buscar conteúdo. Usar por exemplo códigos mais associados ao cinema e contribuir para a mistura de linguagens.”

E é-lhe mais fácil interpretar ou dirigir? “Por norma, não entro nos espetáculos que enceno. Entrei em dois, porque senti que aí poderia dar algo que fizesse sentido. Como comecei como ator, e sofria muito no final de cada projeto, achava que era horrível isto tudo e só quando comecei a encenar é que, para mim, houve um certo esclarecimento. Eu, verdadeiramente, sou uma parte de uma máquina, de uma coisa muito maior do que eu e as minhas questões. Então, de repente aí, comecei a relativizar. Sinto que a forma como estou como ator é totalmente diferente, por ter começado a encenar. Parece que tudo se mistura de certa forma. Eu costumo dizer que não pretendi a ser algo mais para além de mim próprio. E isto é uma infinidade de coisas. Mas eu quero trabalhar mesmo sendo eu, não tentando provar nada. Isso trouxe-me uma certa liberdade.”

O júri do Prémio Revelação Ageas Teatro Nacional D. Maria II 2020, responsável pela eleição de Mário Coelho, foi constituído por Álvaro Correia, Cristina Carvalhal, Cucha Carvalheiro, Inês Barahona, Isabél Zuaa, John Romão, José António Tenente, Marta Carreiras, Mónica Garnel, Rui Horta, Rui Pina Coelho, Sara Barros Leitão e Tónan Quito.

Autor:Por Tânia Fernandes (Texto e Fotos)
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