Mötley Crüe E Def Leppard – O Reencontro Com As Lendas Do Rock

Reportagem de Tânia Fernandes e António Silva

Motley Crue

Foi um público maduro, que ouvia rock “pesado” nos anos 80, que fez questão de estar presente esta sexta feira, no Passeio Marítimo de Algés. O motivo prendia-se com os concertos de Mötley Crüe e Def Leppard, duas bandas lendárias do rock que são referências no universo da música.

Ambas as bandas são exemplos de longevidade na cena do rock. Mantém fiéis seguidores que continuam a apreciar o legado e marcam presença nas apresentações ao vivo. Numa clara divisão de tendências, o público masculino vibrou com o rock mais duro de Mötley Crüe, enquanto que as respetivas acompanhantes puderam recordar os tempos idos em que os conheceram, ao som das melódicas baladas dos Def Leppard.

Chegámos ao recinto, com o sol a diminuir de intensidade, mas com as temperaturas ainda especialmente elevadas. Percebe-se que a adesão não foi massiva e os seguidores do rock encontram-se circunscritos a uma determinada geração.

Coube a The Quartet Of Woah!, banda portuguesa de rock psicadélico, abrir a sessão. Conquistaram o público, que se distribuía pelas sombras do recinto, ao final da tarde.

Passava 15 minutos da hora marcada quando os Def Leppard entraram. Originária do Reino Unido, a banda foi formada em Sheffield, em 1977. Aos 63 anos, Joe Elliott vocalista e um dos membros fundadores mantém figura e prestação muito distintas. A sua voz é uma das marcas registradas do som dos Def Leppard. O cantor é conhecido pela sua capacidade de combinar tons melódicos, com um estilo expressivo. Versátil, adapta-se tanto a baladas emotivas como a canções de rock mais pesadas.

Abriram com “Take What You Want” e o tom grisalho dos cabelos em nada esmorece o entusiasmo com que são recebidos. Joe Elliott surge vestido de preto, com uma camisa de veludo azul. Atravessa a passadeira que o coloca no meio do público e percebe-se que procura interação, ao esticar o microfone na direção das pessoas, para que cantem com ele o refrão.

É com um “Obrigado Lisboa” que termina o primeiro tema, para lançar de seguida a pergunta que todos querem ouvir: “Do you wanna get rocked?”. É o mote para um dos grandes sucessos que a banda interpreta com grande vigor. Neste tema, o vídeo de fundo acrescenta o refrão, em letras de pop art. Ao longo de todo o concerto percebe-se que houve um cuidado especial com as animações que complementam a performance, sem se sobrepor à música.

O público mantém a energia com “Animal”. Desta vez, no ecrã, vão surgindo imagens do videoclip original. E sim, anos passaram pelos elementos, mas a música mantém força. No refrão, Joe Elliott abre os braços e com as mãos chama o público para cantar com ele. Ninguém perde esta oportunidade de cantar ainda mais alto.  “É bom estar aqui” diz no final.

“Fooling” arranca em modo de balada, mas vai ganhando intensidade, com Joe Elliott a apontar com o dedo na direção de cada um que assiste “Is anybody out there, anybody there”?

As t-shirts das bandas do metal saíram à rua. Além das adquiridas na área do merchandising, contamos um número significativo de estampas de Iron Maiden e Mettalica. Além disso, não estão extintos os coletes de ganga com as aplicações das bandas preferidas cosidas.

Cada elemento da banda, tem o seu momento de destaque. Em “Armageddon It” o momento é de Vivian Campbell, guitarrista que integrou os Def Leppard em 1992.

Joe Elliott recorda, de seguida, o difícil período que todos atravessámos durante a pandemia, em que ninguém podia sair de casa e conta que aproveitaram para compor novos temas. “Kick”, que apresenta de seguida, é um deles.

Seguimos depois para uma das conhecidas baladas deste final de tarde com “Love Bits”.

“Lembram-se do barulho que fizeram para Vivian?” pergunta Joe Elliott. “Façam agora para Phil!”. É assim que dá espaço a Phil Collen, co-guitarrista que se juntou aos Def Leppard em 1982 durante a gravação do álbum Pyromania.

Depois de “Promises” montam o set na frente de palco, junto ao público e Joe Elliott pega também numa guitarra para se alinhar com os restantes membros, num modo semi-acustico em “This Guitar”, seguido de “When Love and Hate Collide”.

Rick Savage, o outro guitarrista é mais um dos elementos em destaque esta noite, não só pelo seu talento, como pela forma exuberante com que se apresenta, com um fato completo cor de rosa.

A imagens de lançamento para o espaço não deixam dúvidas, é com “Rocket” que seguem o concerto  e “Heartbreake” volta a apaziguar o ambiente, com auroras boreais em plano de fundo.

O palco tem dois patamares e é no de cima que se encontra instalado Rick Allen, uma inspiração e símbolo de determinação, muito acarinhado pelo público. O baterista só tem um braço – devido a um acidente de carro em 1984 – e não foi isso que o impediu de continuar. Utiliza uma bateria adaptada, na qual usa e abusa dos pés, que o público pode apreciar através de uma camera estrategicamente colocada junto ao músico e cujas imagens são transmitidas nos grandes ecrãs. Dá mostras das suas capacidades num solo, no final de “Switch 625”.

Joe Elliott troca de camisa na reta final do concerto, para uma de finas riscas brancas e pretas e arrasa com uma sequência digna de uma lista de hinos do rock: “Hysteria”, “Some Sugar on Me”, “Rock of Ages”, “Photograph”. Esta última, ganha especial significado pelas imagens que traz. Os Def Leppard abrem o álbum de memórias da banda, com fotografias antigas e juntam-lhe momentos do próprio dia, de fãs, recolhidas no Passeio Marítimo de Algés. Com tanta dedicação, quem não era ficou fã na hora!

“Obrigada, até à próxima! E vai haver uma próxima” promete Joe Elliott na despedida.

Depois de um pequeno intervalo, o palco desaparece no meio do fumo. Nos ecrãs, uma introdução em modo “noticias de última hora” serve para fixar a mensagem “We can´t undo the past, but the future is ours”. A verdade é que os Mötley Crüe sempre alimentaram escândalos na imprensa. A banda de glam rock norte-americana formada em 1981, tornou-se conhecida por um estilo de vida extravagante, cheia de excessos, de comportamento autodestrutivo, uso de drogas e envolvimento em várias polémicas.

Os membros da banda, em especial Nikki Sixx e Tommy Lee, tiveram longas batalhas contra o vício de drogas e álcool ao longo dos anos. Esses problemas foram bem documentados pela imprensa, e em várias ocasiões, afetaram não só as suas vidas privadas como as atuações em concertos. Relacionamentos turbulentos e conturbados com várias personalidades famosas foram aumentando a notoriedade da banda, ao longo dos anos e nem sempre pelas melhores razões.

Surpreendentemente, depois de uma digressão de despedida entre 2014 e 2015 designada The Final Tour, e da biopic The Dirt que chegou à Netflix em 2019, voltaram agora aos palcos nesta combinação com Def Leppard. E se calhar, para evitar mais calamidades, teriam ficado por aí, até porque a polémica continua e chegam a Portugal com suspeitas recentes de playback em concertos.

É certo que trazem para o palco todos os clichês do metal e no mercado da nostalgia, isso vale muito. Há fitas na cabeça a prender o cabelo, guarda roupa extravagante, peças de cabedal com tachas metálicas, correntes de metal ao pescoço, maquilhagem pesada e evidente e duas bailarinas em pose provocadora, durante todo o concerto. Mas a relíquia perdeu claramente o valor.

O som está claramente desajustado no início do concerto com um baixo a sobrepor-se. Já a capacidade de cantar de Vince Neil, sabíamos que dificilmente a iriamos encontrar aqui. Surge altamente manipulada, muito arrastada e pouco percetível. O público não se importou e vibrou com o concerto, principalmente com a sequência final “Dr. Feelgood”, “Girls, Girls, Girls”, “Primal Scream” ou “Kickstart My Heart”. Pelo meio, surpreenderam com animações muito competentes, nomeadamente, em “Looks That Kill” com a boneca japonesa digna de videogame ou a cidade virtual de “Saints of Los Angeles”. Um medley fundiu vários estilos e deu alguma diversidade sonora ao alinhamento, com a combinação dos temas “Rock and Roll, Part 2” / “Smokin’ in the Boys Room” / “Helter Skelter” / “Anarchy in the U.K.” / “Blitzkrieg Bop”.

O que podemos contar mais? A triste figura de Tommy Lee a sair da bateria e vir à frente pedir para ver mamas… claramente ficou preso numa outra galáxia temporal.

Nikki Sixx também convidou duas jovens a vir ao palco – tememos o pior – mas foi uma situação muito sem sentido, só para elas tirarem uma selfie?

“Home Sweet Home”, um dos maiores sucessos dos Mötley Crüe, foi tocada com todos os elementos na frente de palco e as luzes do telemóvel no ar.  Lançada em 1985, mostra um lado mais sensível e introspetivo da banda, em contraste com a imagem de rebeldia e excessos normalmente associada a eles.

As bailarinas tornam-se quase protagonistas na fase final do concerto e em “Girls , Girls, Girls” surgem em palco duas bonecas insufláveis gigantes. Uma espécie de androides femininos que se impõem no palco.

Com uma carreira que abrange mais de quatro décadas, os Mötley Crüe mantêm viva a atitude rebelde. Ainda que a performance esteja em declínio, o público quer é abanar a cabeça com o copo bem cheio.

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