O Regresso De Nick Cave A Lisboa No Terceiro Dia De Kalorama

Reportagem de Tânia Fernandes

Meo Kalorama
Num festival alinhado à música eletrónica, Nick Cave provou que o rock ainda é tendência. Neste festival ficámos também a perceber que a libertação sexual está na voga. Peaches despiu-se de todos os preconceitos, neste último dia de Meo Kalorama.
Em jeito de balanço, no terceiro dia de Meo Kalorama, a organização contabilizou a entrada no recinto de cerca de 112 mil pessoas, de mais de 50 nacionalidades. Foi ainda anunciada um segunda edição, para Lisboa em 2023, nos dias 31 de agosto, 1 e 2 de setembro.

Festival Meo Kalorama

A tarde começou com Tiago Bettencourt, o trovador nacional que tão bem sabe conduzir uma plateia num final de tarde. Entre canções clássicas nos seus concertos, e as mais pedidas, o músico pôs toda a gente a cantar os seus refrões. Fechou com “Morena”, agradecimentos ao público e um original “Que orgulho estar aqui no palco onde vão tocar os grandes Ornatos Violeta”.

E no palco principal, continuou-se a cantar em português, mas num estilo  diferente. O prolongado regresso dos Ornatos Violeta também chegou ao Kalorama. Manel Cruz, único e intenso, trouxe as músicas que todos querem ouvir e ainda muitos abraços ao público. Nem todas saem como deviam. E Manel Cruz não se coíbe de interromper, atirar um palavrão e retomar. O episódio longe de ser embaraçoso, é só mais um motivo para a banda ganhar balanço e tocar ainda com maior entusiasmo.
“Ouvir Dizer”, de O Monstro Precisa de Amigos (1999) não ganha bolor e é cantada por diferentes gerações, em união de vozes.

Festival Meo Kalorama

Peaches era aquele concerto que ninguém queria perder, mais que não fosse pela curiosidade de ver até onde vai a excentricidade em palco. E foi longe, sim, num combinação de música com performance hardcore. O que esperar de quem já protagonizou o musical Peaches Christ Superstar (uma versão subversiva do musical de Andrew Lloyd Weber), comercializou o seu próprio óleo de massagens, já para não falar no vídeo “Pussy Mask” lançado em época de pandemia?

O espetáculo é de provocação contínua. A artista apresenta-se meia despida, com os mamilos tapados, e vai trocando de casacos, que deixam antever as curvas. São 55 anos livres de pudor e cheios de energia. Não resiste a vir passear para cima publico, sobre o qual chega mesmo a deitar-se e fazer crowdsurfing. Acompanham-na bailarinas, que além de coreografias, trazem muitas peças de roupa interior, sobrepostas, que acabam por tirar (todas!) em palco.
A sua atitude traz mensagem, mas para os mais distraídos, usa a roupa para o transmitir. Um espetáculo inesquecível para quem assistiu.
Às 21h00 em ponto, as atenções voltaram-se para o palco principal e para a entrada do Nick Cave com os Bad Seeds. Um concerto muito aguardado em Lisboa. Mas para quem conseguiu, esta foi a excecional oportunidade de o ver duas vezes em Portugal, num curto espaço de tempo (atuou no Primavera Sound em junho de 2022).
O alinhamento foi muito semelhante ao concerto do Porto, mas sentiu-se um maior à vontade nesta atuação. Esta foi a última noite de uma digressão que se prolongou durante três meses.
Se há artista que se entrega em palco é Nick Cave. Gostando da sua música é impossível não usufruir destes momentos em que as suas canções ganham dimensões de preces e o concerto se assemelha a uma intensa experiência religiosa. A maior parte da atuação acontece junto ao público, na grade, onde está instalada uma passadeira. A proximidade não podia ser maior. Ele está lá, junto ao público, olhos nos olhos, de mão dada, a cantar versos, por vezes de uma amargura e ironia extrema. E repete incessantemente “just breath”. A emoção toma conta de muitos que assistem ali, nas primeiras filas. Há quem anuncie que faz anos e Nick Cave depois de ficar sem saber o que dizer, dedica-lhe “Oh Children”. Canta histórias terríveis de amores que correm mal em “Jubilee Street”, o rei Elvis Presley que, ouviu dizer que era natural de “Tupelo”. Só abandona o público para se sentar ao piano e dar momentos grandiosos como “Bring Horses”, “I Need You” ou “Waiting for You”.
O coro, na reta final do concerto, ganha realce e é convidado a vir para a frente. Nick Cave leva-os mesmo a descer as escadas e a cantar junto ao público. Warren Ellis é a outra estrela da noite. O músico e compositor australiano conquista rapidamente a simpatia do público pela forma como se destaca em palco. Além de talento, sabe interpretar o seu papel.
“Obrigada por terem vindo. Significa muito para nós”. Já em encore, fecham com um extraordinário “The Weeping Song” em que põe todos a bater palmas.
Chet Faker atuou sozinho, no palco Colina, mas soube reunir a multidão que acabava de sair da missa de Nick Cave. Com uma combinação de indie com eletrónica, abriu com “Get High”, estreou um novo tema, lançado há dias “It could be nice”, mergulhou a multidão num “I’m Into You” e saiu de forma abrupta, ao fim de uma hora de concerto.
Coube aos Disclosure fechar o festival Kalorama e transformar o recinto numa imensa discoteca ao ar livre.
O Meo Kalorama regressa em 2023, nos dias 31 de agosto, 1 e 2 de setembro.
Recorde os dois primeiros dias de festival Meo Kalorama:
A Eletrónica Marcou o Primeiro Dia de Festival Kalorama
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