Primavera Sound Porto – Entre O Punk Rock De Bad Religion E O Flamenco Eletrónico De Rosalía

Reportagem de Tânia Fernandes e António Silva

Bad Religion
Bad Religion - Primavera Sound Porto 2023 - Day 2

O cartaz revelava, a letras maiores, o nome da cantora flamenca Rosalia, que acabou por ser a escolha da maioria, no entanto a sobreposição de concertos, neste segundo dia de festival obrigava a uma escolha e muitos desviaram do mainstream para o punk rock dos Bad Religion.

A tempestade Óscar foi aquele participante indesejado, que ninguém convidou, mas que fez questão de aparecer na mesma. Esta quinta feira, praticamente todos os que entraram no recinto preveniram-se a tempo e a capa impermeável, muitas vezes a estragar o “look”, tornou-se farda obrigatória.

À hora de abertura de portas, abatia-se uma tremenda carga de água pelo Porto, que puxada a vento deixou logo o recinto praticamente todo alagado. Para lidar com a lama, muitos viraram-se para grande tendência de moda dos festivais ingleses e vieram de galochas.

A informação mais importante, para quem estava a circular no Primavera Sound Porto deixou de ser o horário de atuação das bandas para “a que horas vamos apanhar a próxima molha?”.

A tarde começou com a banda de Braga, os Quadra, que tinham mais entusiasmo do que público a assistir. Trouxeram um rock alternativo, com uma pitada de humor, que acabou por passar despercebido, com o público a atrasar a entrada por culpa do Óscar.

Neste segundo dia, já todos os palcos do Primavera Sound Porto estavam em plena atividade, com concertos a iniciar à mesma hora, em palcos opostos do recinto. Fomos espreitar Surf Curse, que não estavam a passar despercebidos num dos novos palcos deste festival.

Rock moderno, a rimar com ondas, foi o que nos trouxe a banda natural do Nevada, formada por Nick Rattigan (vocalista e baterista) e Jacob Rubeck (vocalista e guitarrista). O São Pedro estava indeciso e ora atirava sol, que obrigava a despir os sufocantes impermeáveis, ou varria o recinto com uma dose de água. Mas o público que ia chegando ao recinto, parava a admirar um pouco da energia explosiva que saía deste palco. Partilharam que estavam a gostar da cidade, sabiam que as pessoas que estavam a assistir não os conheciam de lado nenhum, mas ainda assim, faziam questão de lhes mostrar os novos temas de Magic Hour, o disco lançado em 2022.

Seguimos para o palco principal onde Núria Graham desejava uma boa tarde à plateia em frente e dava as boas vindas ao sol que, entretanto, também ficou para assistir. A cantora, compositora e multi-instrumentista espanhola serviu, com delicadeza a sua prestação musical, que soube bem saborear, da bancada, juntamente com um copo de vinho branco fresco. Mostrou a sua fusão harmoniosa de indie folk, rock e elementos de pop, interpretada com um violão, mas também ao piano. Conseguiu criar uma sensação de intimidade, mesmo num recinto tão amplo como o de um grande festival.

Voltámos a mudar de registo, quando passámos para o paco onde atuavam os The Murder Capital. A banda irlandesa soa a post-punk sombrio, com fortes influências de Joy Division e Editors. Formada em 2015, é composta por James McGovern (vocal), Damien Tuit (guitarra), Cathal Roper (guitarra), Gabriel Paschal Blake (baixo) e Diarmuid Brennan (bateria). Ao vivo, exploraram a intensidade emocional e a energia catártica. Apresentaram alguns temas mais longos, cheios de tensão, que se vão construindo gradualmente, criando um clima denso.

Neste horário de fim de tarde, foram a banda que reuniu mais pessoas a assistir, espalhadas pelo longo relvado. Vinham com novos temas, do recente álbum Gigi’s Recovery.

Trocámos depois a densidade dos The Murder Capital pela leveza de Arlo Parks. Está é uma das caracteristicas deste festival: impossível cair na monotonia!

Arlo Parks, cujo nome verdadeiro é Anaïs Oluwatoyin Estelle Marinho, é uma talentosa cantora, compositora e poetisa britânica. O seu estilo musical é uma mistura de indie pop, soul e R&B, com influências de artistas como Frank Ocean, Morcheeba e Portishead. Tem uma presença cativante. A sua voz suave e envolvente transmite a sinceridade das suas letras. Trouxe-nos, entre outras, “Bruiseless”, “Weightless”, “Blades” e “Caroline”. Guardámos um conforto n coração do momento que que a cantora partilhou que “a ultima vez que aqui estivemos, demos um dos melhores concertos da nossa vida”. Esperavam superar essa medida com a atuação no Primavera Sound Porto!

A instabilidade meteorológica no início da noite levou-nos a fazer uma seleção criteriosa do que ver. Espreitámos Gaz Coombes, conhecido pelo seu trabalho como vocalista e guitarrista da banda Supergrass. Agora a solo, provou ser um músico completo e com carisma. Abrange desde o rock alternativo e indie até elementos da música eletrónica e pop. Em palco, demonstrou essa capacidade de explorar uma ampla gama de géneros musicais. Gaz Coombes também já colaborou com outros artistas e contribuiu para bandas sonoras de filmes.

Depois, tomou conta deste palco Gilla Band, uma experiência musical pós-punk e noise rock de Dublin. Trouxeram uma mistura ousada de guitarras distorcidas e batidas pesadas, caóticas.

Fred Again era um dos nomes mais aguardados da noite. Apesar de o São Pedro discordar, o público fez a rave com a ajuda do produtor e compositor inglês, alheios ao que se passava entre o céu e a terra. Na era da música digital e da experimentação sonora, Fred Again tem-se destacado por uma abordagem ousada. Fez carreira a contribuir com faixas para nomes conhecidos da indústria da música (Ed Sheeran, Stormzy, FKA twigs e Headie One, entre outros).  O sucesso tem crescido pela sua capacidade de explorar novos sons e texturas. Mistura elementos eletrónicos, hip-hop, pop, amostras vocais e uma variedade de outras influências. No Primavera Sound Porto, envolveu o público numa experiência musical imersiva, à chuva.

Depois da meia noite e meia, o recinto dividiu-se entre a popular Rosalía e o punk rock de Bad Religion.

A cantora, compositora e produtora espanhola é uma das artistas mais populares e influentes da música contemporânea. Atuou em Lisboa, no final de 2022 e trouxe o espetáculo da digressão Motomami, devidamente adaptado ao formato mais curto de um festival.

Rosalía destaca-se por apresentar uma mistura de flamenco tradicional com elementos modernos de pop, hip-hop e música eletrónica. A sua presença no palco transmite paixão e intensidade emocional, que envolvem o público.

Mesmo para contexto de festival, percebe-se que há um cuidado especial na produção do seu concerto. Rosalía cria cenários e figurinos que complementam a música e refletem sua identidade artística. Com um palco inclinado, manipula a perceção visual de quem assiste, gigantes ventoinhas mante-lhe o cabelo a esvoaçar na direção certa, bailarinos talentosos complementam a atuação. Tem um cameraman em exclusivo, a captar-lhe os ângulos mais próximos, que são reproduzidos nos gigantes videohalls, mas ficamos na dúvida, está a atuar para o publico, ou para a camera? Os próprios bailarinos atuam com equipamentos de filmar, cujas imagens também são ampliadas para o público. Sentimos que estamos a ser meros figurantes de uma gigante operação de filmagem de vídeo clip.

Os grandes êxito sucedem-se de forma rápida. “La Noche de Anoche”, “Despechá”, “Con Altura” ou “Malamente”. A este alinhamento, são acrescentadas as mais recentes “Beso” e “Vampiros”. Estes temas são o resultado da colaboração entre Rosalía e o seu namorado Rauw Alejandro e representam uma nova era na música latina, onde a fusão de estilos musicais e a quebra de barreiras culturais são celebradas. Rauw Alejandro, nascido em Porto Rico, é um cantor e compositor que ganhou destaque pela sua capacidade de transitar entre estilos como reggaeton, trap e pop latino.

A artista fala com o público ao longo de todo o concerto e manifesta o seu agradecimento por todo o carinho que lhe entregam. Não deixa mesmo de descer ao público e partilhar o microfone com quem assiste, nas primeiras filas.

Enquanto isso, do outro lado do recinto, a noite segue ao som dos Bad Religion, banda rock formada em 1980 em Los Angeles, Califórnia. Considerada uma das pioneiras do punk rock melódico, a banda é conhecida por abordar temas controversos e políticos.

A formação original da banda já sofreu alterações, ao longo dos anos, mas Greg Graffin (vocal)e Brett Gurewitz (guitarra) permanecem como membros centrais. Juntam letras de crítica social e reflexões sobre os problemas do mundo moderno a poderosos riffs de guitarra. É música influenciada pelo estilo punk rock clássico, com influências do hardcore punk e do rock alternativo. O público respondeu de forma adequada aos guerreiros do hardcore melódico. Começaram com “American Jesus”, “Los Angeles Is Burning”, “Do What You Want” e fecharam em grande a festa com a conhecida “21st Century (Digital Boy)”.

Há mais uma boa dose de musica para descobrir esta sexta-feira no Parque da Cidade. O Primavera Sound Porto apresenta Deixem O Pimba Em Paz, My Morning Jacket, Pet Shop Boys, Central Cee, Meta, Wednesday, NxWORRIES (Anderson .Paak & Knxwledge), St Vincent, Darkside, Terno Rei, Pusha T, Rema, Le Tigre, Margarida Campelo, Blondshell, Built to Spill, Self Esteem, Tokischa, King Kami, Shannen SP B2B Joe Cotch, Marcellus Pittman, Jayda G.

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