Passados 19 anos sobre a estreia de Propriedade Privada no Teatro Nacional São João, no Porto, Olga Roriz apresenta-nos a concretização de um já antigo desejo de revisitar esta peça politicamente incorreta, agressiva, violenta e até mesmo holocáustica.
A criadora que até então não acreditava conseguir intérpretes que fizessem jus ao elenco original releva agora que nada lhe “dará mais prazer neste ano em festa do que revisitar com um elenco renovado, esta peça icónica”.
A comemorar os seus quarenta anos de carreira e os vinte anos da Companhia Olga Roriz, é então apresentada Propriedade Privada, uma tríade onde corpo, alma e crime coexistem num cenário único, onde se tocam o politicamente incorreto, agressivo e provocador.
Sobre o Corpo
Propriedade Privada é construída de uma matéria espessa proveniente da mistura de cimento, desejo, sonhos passados, mentiras, cal, jogos perversos, dor, uma câmara escondida, água, tempo que passa, sangue e perigo eminente.
Olga Roriz (Maio 1996)
Sobre a Alma
A Alma já está farta de ficar confinada dentro de uma caixa, com orelhas e olhos do tamanho de moedas, feito de pele – só cicatrizes – cobrindo um esqueleto.
Arseni Tarkovsky
Sobre o Crime
O crime é sermos demasiado pequenos ou demasiado grandes, é trairmos as nossas vontades, é esquecer quem somos e o que fazemos. O crime é esquecer a maldade, a doença e a fome. O crime é vestirmos seda sobre corpos de pedra, é virarmos a cara para não ver. O crime é também não chorar, não sofrer, não ter medo de morrer, de deixar morrer.
Olga Roriz (Maio 1996)
Integram o elenco de Propriedade Privada Beatriz Valentim, Carla Ribeiro, Marta Lobato Faria, Sylvia Rijmer, André de Campos Bruno Alexandre e Bruno Alves.
Os espetáculos têm início às 21h00 e os bilhetes têm preços entre 12,5 e 15 euros, estando disponíveis para compra nos locais habituais.
Texto de Marta Plácido