U2 Deram Lição De União Em Lisboa

Reportagem de Tânia Fernandes (texto)

U2 Portugal
U2 Lisboa

A história da melhor banda de rock do mundo, está em cena, estes dias, na Altice Arena. Contada e cantada pelos próprios. Com momentos de banda desenhada, em que são super-heróis, outros em que põe as novas tecnologias digitais ao serviço da música. Com mais de 40 anos de carreira, os U2 trouxeram um concerto inovador a Lisboa, com esta Experience and Innocence Tour. Repetem esta noite.

À sexta passagem dos U2 por Portugal, é cada vez mais difícil adquirir bilhetes para os concertos e também mais dispendioso para quem se predispõe a isso. Ao virar costas à Altice Arena, no final da primeira noite de concerto, a sensação é de que, ainda assim, vale a pena o esforço de não perder a atuação destes quatro heróis da música. Os mais jovens até os podem ignorar, mas há várias gerações que os têm acompanhado e reconhecem que eles estão sempre um passo à frente.

Mais uma vez, acrescentaram à música um cenário com impacto visual. A arena divide-se ao meio por uma passadeira, onde assenta um ecrã de grande definição. Essa tela é, quando querem, transparente, ocultando ou revelando os próprios, a interagir com a animação. Do lado oposto ao palco principal, há um outro circular, onde decorre parte do concerto. Um concerto a que se devia poder assistir mais do que uma vez, de diferentes locais, para poder ter atenção aos detalhes que decorrem em diferentes pontos, em simultâneo.

Lisboa soma pontos pela emoção com que o público reage à presença dos U2. Começaram com um atraso de vinte minutos com imagens de várias cidades europeias destruídas pela guerra. Ao longo do concerto, percebe-se que a digressão foi adaptada a cada local específico onde montaram palco. Mais à frente, em “City of the Blinding Lights” há imagens de Lisboa e muito do discurso de Bono Vox, ao longo do concerto, foi legendado para português. De volta aos primeiros acordes, o público ainda está atordoado com o impacto das primeiras imagens quando se começa a ouvir o vocalista dos U2 a cantar “The Blackout”. As cabeças rodam na direção dos palcos, que estão vazios. Os U2 começam o concerto no palco suspenso, entre telas, numa imagem visual impressionante.

Continuam no ambiente de Songs of Experience, para “Lights Of Home”. A banda arruma-se no palco principal, mas Bono Vox prefere caminhar pela passadeira, com o seu passo típico, irregular, como se andasse sobre uma cascata. Termina de joelhos, no palco circular e o público está já eufórico no final do segundo tema.

A emoção dobrar quando anuncia “uma música nova” e se ouvem os acordes de “I Will Follow”. Uma piada para os mais distraídos, uma vez que este é o primeiro single da banda, extraído do primeiro álbum Boy. O timbre com o ritmo furioso do início dos anos 80 deixa a plateia aos saltos. Entre músicas, vai-se ouvindo um “obrigado”, mas é no final de “Red Flag Day” que pergunta “todos bem?”. A resposta não demora a chegar e eles ajudam com “Beautiful Day”. A força que a música ganha ao vivo faz com que o vocalista repita, no final a palavra “beautiful” várias vezes. Agradece ao público o tempo de espera. Continua depois, para uma viagem no tempo, à sua terra natal. Conta a história de quatro miúdos, que acabaram por ter uma vida extraordinária e envolve as memórias da sua mãe, Iris. A introdução ao tema, é quase um poema cantado, que é traduzido para a nossa língua. No ecrã, as imagens são tocantes e há interação entre a animação e o que acontece em palco.  “Cedarwood Road” é um passeio pelas ruas de Dublin, e os lugares comuns onde estes jovens passaram. Mais uma vez, a animação dos ecrãs vem valorizar o tema. E chegamos a um dos grandes hinos dos U2: “Sunday Bloody Sunday”. Bono Vox, Larry Mullen Jr, Adam Clayton e The Edge distribuem-se pela passadeira e sob as luzes da bandeira da Irlanda destaca-se o soar do tambor.

As mensagens políticas são uma constante ao longo na noite. Além da música, esta é uma banda que tenta marcar a diferença pelas posições que assume. A união de uma Europa que fala várias línguas, o acolhimento de refugiados, as guerras que desuniram vão sendo chamadas ao palco. “Until the End Of the World” encerra uma espécie de primeira parte.

Os U2 mudam-se para o outro palco. A proximidade com o público é maior e abre-se também um capítulo mais antigo em que se recupera “Elevation”, “Vertigo” (com um refrão de “Rebel, Rebel” de David Bowie a fechar) e “Even Better Than the Real Thing”. O personagem Mac Phisto está em palco, com a sua cartola, e deixa mensagens ameaçadoras. Há uma bola de espelhos sobre a banda e recordamos os momentos mais dançáveis da banda. Sim, são a maior banda de rock’n’roll da cidade de Dublin, tal como dizem os próprios, mas ao longo da carreira têm conseguido diversificar o estilo sem perder identidade.

Depois de um acústico “You’re the best thing about me” ficamos só com Bono e The Edge para “Summer of Love”. Simples, com um mar azul de fundo.  É nesta paisagem tranquila que surgem depois recortes de barcos com refugiados e ruas bombardeadas. Quase sem parar a intensidade destas imagens fazem a transição para “Pride (In the Name of Love)”, outro dos clássicos dos U2.  No final, a mensagem é sempre pacificadora e de união: “We refuse to hate because se know love will do a better job”.

O público continua a agradecer este ping pong entre o agora e o antes. De Songs of Experience cantam “Get Out of Your Own Way” para depois voltarem ao dourado “New Year’s Day”.

Quase duas horas depois começam as despedidas, com um encore carregado de emoção.

O vocalista explica a sua noção de “One” ao dizer que é ¼ da banda e metade da unidade familiar, juntamente com a mulher. Uma humildade que conquista os presentes. As luzes de palco são desligados e o coro é gigante, iluminado somente pelas luzes dos telemóveis.
Os U2 continuam a espalhar o amor com “Love is bigger than anything in its way”. As imagens que correm no ecrã dão conta de um amor sem barreiras, livre de género e de preconceito. O público continua a cantar, mesmo depois da banda terminar. A despedida é encenada, mas muito curta. Bono Vox deixa uma lâmpada acesa, no palco secundário e sai pelo meio do público ainda a cantar “13”.

Em tempos idos, era “40” que encerrava e a banda só abandonava o palco quando o público já estava rouco de cantar. Mas o ritmo de consumo hoje, parece que tem hora marcada para terminar.

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