30 Anos De The Mission Celebrados Com Emoção Em Lisboa

Reportagem de Tânia Fernandes (Texto) e António Silva (Fotos)

O cabelo longo e escuro, amparado por um grande chapéu de abas largas deu lugar a um corte curto e grisalho. Evidências que saltam de imediato à vista e confirmam o nome da digressão: The Mission 30th Aniversary Tour. Mantém-se os anéis, as unhas pintadas de preto, as orelhas preenchidas de argolas e as vestes escuras. Mais importante de tudo: as melodias que atravessaram a vida de quem hoje está entre os 40 e os 50 anos, continuam a soar de forma única.

Os The Mission atuaram ontem em Lisboa, no Paradise Garage, em Lisboa. Sala lotada, há mais de um mês, que se revelou desadequada para receber a banda. A reduzida capacidade foi incapaz de dar resposta à afluência. Somaram-se-lhe as más condições técnicas, a deixar o público a tentar adivinhar a voz de Wayne Hussey, afogada pelo estrondo dos instrumentos. Mas o grupos de devotos que marcou presença celebrou na mesma o trigésimo aniversário desta banda, que se destacou nos anos 80, como ícones de um rock gótico. A simpatia e entrega dos músicos ajudou a que a noite fosse mesmo de festa.

Eram muitas as t-shirts de diferentes digressões dos The Mission que circulavam no recinto. Antes do concerto começar, a conversa fazia-se em modo de “Regresso ao Passado”. Qual foi a última vez que viste os The Mission? Estiveste no Coliseu em Lisboa? “Esse foi muito bem negociado com os meus pais, pois ainda não podia sair de casa à noite, assim…”. E apesar de haver novo disco e temas a estrear, a energia sobe é aos acordes dos antigos êxitos: “Beyond The Pale”, “Serpent Kiss” e “Hurricane” salvaguardaram as expectativas. Comoção geral no arranque do concerto.

Percebe-se que a banda se sente confortável em Portugal. São carinhosamente amparados e retribuem com agradecimentos. Com esforço e empenho, Wayne Hussey arriscou uma tirada em português (certamente com muito treino previo): “Nós… temos… novo… álbum. Muito bom!”. Trata-se de Another Fall From Grace, lançado no final de setembro deste ano e dele revelaram, de seguida, “Tyranny of Secret”, mais tarde “Another Fall From Grace”, bem como o single “Met-Amor-Phosis”.

O som, foi dando problemas, mas quem tem 30 anos de estrada, resolve a questão com improviso e assim tivemos direito ao extra “Unchained Melody” enquanto o baixista Craig Adams trocava de sistema.

De regresso ao passado, “Like a Child Again” voltou a fazer a plateia vibrar. É verdade que os tempos são outros e a atuação de Wayne Hussey tem o apoio de um tablet estrategicamente colocado no suporte do microfone. Temos direito a bailarinas do ventre em “Tower of Strenght” e chuva de confetis em “Wasteland” e erguem-se estandartes no ar. O barco transbordou de devoção.

Os músicos saíram uma primeira vez de palco, mas o público assobiou por obrigação. Sabem que é jogo encenado e limitaram-se a aguardar o regresso. Há um início de encore acústico, só com o vocalista e a voz feminina do coro a acompanha-lo. E pela primeira vez na noite, ouvimos as vozes, de forma nítida de um e outro. Que pena não ter sido sempre assim… Os músicos regressaram ao palco, cada um com a sua garrafa de vinho português que foram dando conta ao longo do concerto e “Butterfly on a “Wheel” e “Severina” tornam o momento inesquecível. Depois voltaram a sair, e desta vez o público fez-se ouvir. Sem certeza de regresso, ficou, por ouvir, pelo menos, “Deliverance” e foi isso que se cantou, em coro, com o palco ainda vazio.

Os The Mission regressaram, como não podia deixar de ser para satisfazer o pedido, depois de “Black Cat Bone” e “Crystal Ocean”. E entregaram tudo: as garrafas de vinho, de água e até rosas vermelhas.

Quase duas horas de concerto depois, fica a sensação de um “Até breve”, mas num espaço com melhores condições.

A primeira parte foi assegurada pela banda gótica The Awakening. Eles vêm da África do Sul, contam com Ashton Nyte na voz e guitarra. Quem não passa despercebida é a figura feminina, Chela Rhea Harper. A banda tem vindo a acompanhar a digressão dos The Mission e a mostrar o seu trabalho. Para além dos seus originais, apresentaram uma versão mais industrial e pesada do clássico “The Sound Of Silence”.

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