A Praia, A Pandemia E O Amor Cantados Por Xavier Rudd Em Lisboa

Reportagem de Tânia Fernandes e António Silva

Xavier Rudd
Xavier Rudd

Xavier Rudd abriu a digressão europeia Jan Juc Moon em Portugal. Depois do Porto, atuou no Coliseu dos Recreios, onde foi recebido com a alma, pela tribo dos espíritos livres e da água salgada.

Um concerto sem banda, em que provou os seus dotes de multi-instrumentista. Contou apenas com o apoio pontual de Bobby Alu, o músico australiano, com raízes em Samoa, que atuou na primeira parte do concerto. O baterista e músico de ukelele integra a digressão Jan Juc Moon, na Europa. Bobby Alu é um embaixador dos ritmos tropicais que animou a plateia com a sua harmonia musical do Pacífico Sul.

Começou às 20h00 em ponto e durante meia hora juntou ao seu talento, a felicidade de quem estava a atuar, pela primeira vez em Portugal.

“Estão aqui com irmãos? Amigos? Sozinhos?” quis saber. “Percam algum tempo para lhes dizer o quão importante eles são”. Deu o mote para o primeiro abraço coletivo da noite, ativando as correntes de boa energia latentes.

Uma batida alegre, ritmo e boa energia seriam de entrada a uma refeição que todos estavam ansiosos por consumir.

O regresso de Xavier Rudd a Portugal foi daqueles várias vezes adiado, devido à pandemia. Quando foi anunciado, ainda era a We Deserve to Dream Tour, o nome de um dos temas de um trabalho que acabou por ser construído ao longo do tempo.

Jan Juc Moon, foi lançado em março de 2022 e em Lisboa, foi apresentado em noite de lua cheia. Cenário que só pode ser apreciado à saída de um Coliseu muito composto, onde as temperaturas atingiram consideráveis níveis de desconforto.

Quando as luzes se acenderam, às 21h00, Xavier Rudd já ocupava o seu lugar na bateria. “I Am Eagle”, o tema que abre o álbum, foi também o início de um concerto que surpreendeu pela forma como o músico geriu todos os elementos fundamentais: música, voz e espetáculo. O artista consegue lidar com a percussão e com o didgeridoo, em simultâneo. O que sobressai da sua atuação é a forma como se empenha na arte de fazer música, de combinar elementos indígenas e de neles, refletir a sua ligação à Terra. A tribo recebe-o como um herói da natureza, e acima de tudo da arte de juntar pessoas a dançar, pelo bem.

Vestido de vermelho, identificou-se com o tema, quando no final da música, se pôs de pé abriu os braços e agitou as mãos. O match com a águia de fundo tornou-se evidente. Vai sozinho, descalço, mas seguro.

No início do concerto percorre alguns dos novos temas: “Stoney Creek” e “The Window” em que junta uma harmónica. Em “Sliding Down a Rainbow” assistimos a um explorar de novas sonoridades, com caminhos que nos levam à musica de dança.

O mundo mudou, e o compositor debate-se com novas questões “Every wakin’ hour of every wakin’ day/ I wake up to the sound of discussions in my brain” para as quais não tem resposta, como canta “I don’t know the answer and I don’t know the truth”.
Só depois de tocar “We deserve to dream” é que levanta o braço, agradece ao público e pergunta como estão todos. “É bom ver as pessoas todas juntas a partilhar amor, a partilhar a música”.

Introduz “Storm Boy” como o tema de carrega e difunde o espirito da Austrália, pelo mundo.

Para “Ball and Chain” outro dos temas novos, toca, como é característica sua, guitarra como se fossem teclas, com o instrumento poisado nas pernas. Bobby Alu acompanha-o, numa bateria montada para o efeito na lateral do palco.

O concerto continua para os temas mais antigos, bem recebidos por todos “Come Let Go”, “Great Divine”, “Spirit Bird” e o mantra dos seguidores “Follow The Sun”.

Em encore, é aplaudido como a um rei e despede-se com “Walk Away”.
Uma noite de concerto hipnótica, conduzida pelo one-man-band, num registo muito diferente de concertos anteriores em que, com o apoio de uma banda, se libertou para a sua performance.  Desta vez, a solo,  combinou momentos calmos com outros absolutamente arrasadores. A praia, a pandemia e o amor, foram cantados e dançados esta noite quente, no Coliseu dos Recreios.

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