Centro de Arte Manuel de Brito em Algés inaugura duas novas exposições em Setembro

Fátima Mendonça, Eu tenho medo, lá, lá, lá, lá, lá..., 2001, lápis, past...Dia 25 de Setembro pelas 18h30, no Palácio dos Anjos em Algés, são inauguradas duas novas exposições: uma de Fátima Mendonça e Para lá da Pintura.

Trata-se de uma inauguração simultânea, patente ao público a partir do dia 26 de setembro, a primeira é comemorativa do quinquagésimo aniversário da pintora Fátima Mendonça, com obras de 1988 a 2010, e Para lá da Pintura, que reúne obras feitas com materiais não convencionais, de artistas tão diversos como Ana Vidigal, Joana Vasconcelos, João Leonardo, João Pedro Vale, Lourdes Castro, Menez, Miguel Palma, Paula Rego e Xana, entre muitos outros

A mostra de Fátima Mendonça no CAMB pode ser visitada até 13 de setembro de 2015, e recria o medo, a solidão, as mágoas, a violência e a fragilidade humanas, as fantasias trazidas da infância e o confronto com a realidade adulta.

A casa sempre foi o elemento primordial da pintura de Fátima Mendonça. Ao contrário do que está convencionado, em que dentro de casa tudo é calmo e fora dela todos os perigos espreitam, aqui a casa está longe de ser um lugar de refúgio tal como o interior humano. As séries que pintou têm em si nomes muito expressivos – “A Casa dos Bolos”, “A Casa do Desarranjo”, “A Casa do Desassossego”, “Gosto muito da minha Casinha”, “Eu tenho medo: lá, lá, lá, lá, lá …” ou “Casa-Carrossel”. Formas de bolos e animais magoados ou aprisionados em armadilhas são uma constante. O fogo está omnipresente, quer para cozer os bolos ou queimar animais, quer como ameaça exterior. Quando aparece uma menina ela está nua, de braços abertos, indefesa e vulnerável, muitas vezes fugindo de um fogo ameaçador. Em vez do aconchego a menina, presente ou ausente, nunca esteve tão abandonada e desesperada.

A série “Assim… assim… assim… para gostares mais de mim” é o livro aberto da sedução. Nestes trabalhos enormes tudo é perturbação e excesso. Como uma aranha que faz a sua teia para apanhar a presa, a personagem feminina tece as armadilhas para atrair o seu amado, com bolos a indicar o caminho para ele não se perder ou com uma sala forrada a bolo-mármore. Mas o exercício amoroso é perturbado pelo lado mais violento da paixão. A personagem feminina desafia o homem numa luta de morte. Corpos despedaçados e muitas próteses revelam a agressão e os ardis desse desafio.

A série Autorretratos é uma sequência de narrativas de violência e agressão física, manifestando-se por naturezas mortas bordadas na pele, arranhões feitos com habilidade e massa de bolo que se cola à pele e não sai. A violência psicológica é terrível “coze as tuas vergonhas, as tuas apoquentações, a tua cabeça, os teus medos”. Apesar das rezas e das penitências para esconjurar o medo, a menina tranquiliza-se a si mesmo “descansa, sossega, confia, aqui não há dor” e vai mais longe, querendo fugir e a voar para escapar da prisão onde tudo é ameaçador. Num dos quadros lê-se “o que é que a Fátima tem”, tem tudo e muitos medos como ninguém”.

 

Sofia Leitão, Apparel #2, 2010, lantejoulas, pins, espuma e madeira, 42 ...Com a exposição colectiva Para lá da Pintura, que pode ser visitada até 15 de março de 2015, pretende-se mostrar obras de arte feitas com materiais não convencionais.

Menez transportou para um bordado a sua pintura, Lourdes Castro bordou a ponto pé-de-flor a sombra de uma Inês, a artista brasileira Leda Catunda também usou essa técnica para uma versão da peça Amorosa e Joana Salvador tem um bordado sobre seda e duas tapeçarias. Sofia Leitão mostra duas peças em que usa alfinetes e lantejoulas e nos remete para o vestido duma personagem de Bronzino e para os ricos tecidos de seda do Século XVIII. Joana Vasconcelos apresenta-se com uma “Valquíria feita em tricot” e Cristina Branco construiu uma paisagem com papéis de cores recortados à mão.

Paula Rego tem três objetos em pano representando personagens de contos tradicionais – A Princesa da Ervilha, O Gato das Botas e As três Cabeças de Ouro. De Gabriel Abrantes temos seis bonecos de trapos com personagens do seu imaginário.

Do artista americano Barton Lidice Beneš temos duas paletas feitas com dinheiro e uma colagem com a imagem da Vénus de Botticelli e respetiva concha. O artista brasileiro Alex Flemming fez uma reciclagem da roupa que usou pintando-a com tinta acrílica quando chegou ao fim. Temos também um avião feito com tapetes da série Flying Carpets.

Xana mostra-se com dois objetos coloridos, Urbano tem uma Celebração em gesso e folha de prata e Ana Vidigal quatro colagens com formas para bolos, uma travessa de plástico, um coração de papel envolto num fio dourado com estrelas e um boneco de peluche revestido com picos.

Uma casa de bonecas com móveis miniatura que voam de Miguel Palma, uma peça de Cláudio Morais Sarmento feita com os objetos mais diversos, uma imagem de Portugal ardido feito com beatas por João Leonardo, duas peças de João Pedro Vale uma feita com cotonetes e outra com pensos rápidos, uma enigmática caixa de correio de canto de Rodrigo Oliveira, uma rosa, que também é uma travessa, feita em arame de David Oliveira. Da artista norueguesa Lisbeth Moe Nielsen uma almofada imaculadamente branca feita com gesso e dois trabalhos com papéis recortados.

As exposições podem ser vistas de terça a sexta-feira, das 10h00 às 18h00 e sábados e domingos das 12h00 às 18h00.

Os bilhetes podem ser adquiridos localmente e custam 2 euros, sendo a entrada gratuita aos domingos.

Texto de Teresa Leal
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