Central Cee, Pet Shop Boys E St. Vincent No Terceiro Dia De Primavera Sound Porto

Reportagem de Tânia Fernandes e António Silva

Central Cee - Primavera Sound Porto
Central Cee - Primavera Sound Porto 2023 - Day 3

Estilos de música diferentes, para gerações distintas movimentaram o público, entre palcos, ao terceiro dia do festival Primavera Sound Porto. A geração mais velha teve oportunidade de recordar os velhos êxitos dos Pet Shop Boys, os mais novos de cantar as rimas acutilantes de Central Cee e a faixa do meio, deixou-se levar na performance sempre cheia de energia de St. Vincent.

Menos pessoas, num cenário maltratado pela chuva, que caiu no dia anterior. Na zona do palco principal, a organização tentou recuperar o solo com brita, nas zonas mais afetadas, mas um odor intenso ficou a envolver a área.

Central Cee

A geração teen sabia ao que vinha, quando já depois da uma da manhã se alinhou junto ao palco. A entrada do rapper foi precedida de um DJ, experiência habitual nos concertos de hip hop. Um mix de temas conhecidos dos ídolos desta geração aqueceu a pequena multidão.

O alinhamento é semelhante ao que o artista tem estado a apresentar na Still Loading Tour que arrancou em setembro de 2022 na Austrália e já deu a volta ao mundo.

Central Cee dá a conhecer as suas origens, no vídeo de abertura. Nascido e criado em Londres, apresenta música influenciada pelo drill, um subgénero do rap que teve origem em Chicago. Compoe com letras que falam sobre a vida nas ruas, as experiências pessoais e as suas ambições. Revela uma perspetiva honesta da vida real. O artista é um exemplo que inspira todos os que sonham com uma carreira na música. A sua experiência prova que é possível superar adversidades e alcançar o sucesso através do talento e da dedicação.

O concerto começou com “A little bit of this”, com muitos telemóveis no ar a registar o momento, seguida de “Retail therapy”. A chuva que se manteve afastada ao longo de todo o dia, regressou no início do concerto de Central Cee. Alguns voltaram a retirar os impermeáveis da bolsa, mas ninguém arredou pé. “Commitment issues” voltou a unir um coro de vozes, conhecedor da música do artista. A balada “Let go”, um dos temas lançados este ano, embalou a multidão depois. Ao longo do concerto deu mostras do seu talento. É conhecido pelo registo freestyle,  em que demonstra destreza lírica e capacidade de improvisação.

Para o final da sua curta mas intensa atuação deixou “Obsessed With You” e ” Day in The Life’. Central Cee tem data de regresso marcada para Portugal, muito próximo. O artista integra a cartaz do Rolling Loud que vai decorrer em Portimão, entre os dias 5 e 7 de julho.

St. Vincent

Antes, St. Vincent foi a estrela no palco do outro lado da colina.  St. Vincent é o nome artístico de Annie Clark, a cantora, compositora e multi-instrumentista norte-americana que se tem destacado como uma das artistas mais criativas e inovadoras da sua geração. Nascida em Tulsa, Oklahoma, e criada em Dallas, Texas, St. Vincent começou sua carreira musical como membro da banda de rock The Polyphonic Spree antes de embarcar em sua carreira solo. Combina elementos de rock alternativo, indie pop, art pop e eletrónica para criar um som único.

Com uma atuação na linha do que trouxe a Lisboa, ao festival NOS Alive, em 2022, Anne Clark arrebatou, ao dirigir-se ao público em língua portuguesa e de forma muito explícita, de quem estudou bem a lição: “Boa Noite Porto. Estou muito feliz por estar aqui. O Porto é lindo, carago!”.

Provou, mais uma vez a sua capacidade ímpar para fazer soar a guitarra elétrica. O instrumento tornou-se quase uma extensão de si própria, uma vez que a artista a utiliza não só para criar novas abordagens sonoras como para expressar emoções intensas.

O concerto como é habitual, foi uma verdadeira experiência artística, combinando música, dança e alguma performance. Abriu com “Digital Witness”, em “New York” desceu ao público para cantar no meio da multidão. Para o final da apresentação deixou “Fear the Future”, “Your Lips are Red” e “The Melting of The Sun”.

The Pet Shop Boys

O concerto mais concorrido da noite foi The Pet Shop Boys, uma viagem à memory lane para dançar ao som dos conhecidos temas da famosa dupla dos anos 80: Neil Tennant e Chris Lowe.

Cientes de que vivem do sucesso de outros tempos, deram as boas vindas ao público do Porto com o convite “Venham para a terra dos sonhos e das memórias”.

Surgiram no centro de um cenário futurista, de design minimalista. Um cuidado estético visual envolveu esta entrada. Os dois músicos apresentavam-se inertes, com volumosas máscaras. Cada um era iluminado por um candeeiro de rua branco. Vestidos de preto e com longos casacos brancos, assemelhava-se a cientistas em modo de investigação paranormal. O convite para dançar chegou logo com o primeiro tema “Suburbia”, aquela combinação de “subúrbio” com “utopia”.

Os elementos cenográficos são abandonados ao terceiro tema, quando aligeiram a pose e cruzaram duas conhecidas covers da época, num tema que registaram no álbum Behavior:  “Where the streets have no name” e “I can’t take my eyes off you”. Em “Left to my own devices” cai o pano de fundo e é revelado o resto da banda que os acompanha.  Seguem para “Domino dancing” e o recinto do Primavera Sound Porto é uma grande pista de dança, onde quase só falta uma bola de espelhos. Depois de “Paninaro”, tocaram outra das suas mais conhecidas covers “You were always on my mind”.

As influências do synthpop e do disco dos anos 80 tornaram-se uma marca registrada da música dos Pet Shop Boys. “Alright” foi o momento rave do concerto.

“Porto, acho que vão reconhecer esta música. Já vamos ver.” A certeza era relativa a “Go west”, a conhecida versão dos Village People, à qual se seguiu outro estrondoso êxito: “Its a sin”.

Pouco habitual em festivais, pela limitação de tempo, mas os The Pet Shop Boys são old school. O concerto teve direito a encore, a começar com “West end girls”, a canção que em 1986 se tornou um sucesso mundial e levou a banda ao topo das listas em vários países. Para verdadeiramente apreciar as diferenças entre o antes e o depois, o tema era acompanhado do videoclip da época, com as imagens dos músicos – de há quase quarenta anos.

Uma deixa de ironia a fechar: “Being boring”.

Deixem o Pimba em Paz

A tarde começou com uma dose certa de humor e música. O projeto Deixem o Pimba em Paz, que reúne os artistas Bruno Nogueira, Manuela Azevedo, Filipe Melo, Nuno Rafael e Nelson Cascais abriu o palco principal, no terceiro dia de festival Primavera Sound Porto. Andam na estrada há dez anos, sempre com muito sucesso a apresentar novas versões de conhecidos temas do cancioneiro popular nacional. Para os estrangeiros, o fenómeno será totalmente estranho, mas todos os portugueses cantam, sem inibição, refrões como “Podes ficar com as joias, o carro e a casa/ Mas não fiques com ele”, um original de Ágata (“Comunhão de Bens”)  ou o relato de uma tragédia anunciada cantada em “Vem devagar emigrante” de Graciano Saga.

Seguimos para Blondshell, o projeto de música alternativa da cantora Sabrina Teitelbaum. Dona de uma voz poderosa, cheia de emoção, contou que acabara de chegar de Los Angeles. Veio apresentar o seu trabalho homónimo, lançado este ano, de onde se têm destacado os temas “Olympus”, “Kiss City” e “Veronica Mars”.

No mesmo palco, mais tarde, atuaram os Built to Spill, a banda americana de indie rock centrada no vocalista e guitarrista Doug Martsch.

De volta ao palco principal, o publico vibrou com o rock bem estruturado de My Morning Jacket. Contavam com bons fans a acompanhá-los na plateia. A banda de Louisville, Kentucky, formada em 1998, destaca-se pela fusão eclética de rock, folk, country e influências psicadélicas. No coração do som está a figura de Jim James, que se apresentou com uns óculos distintos, em forma de corações. Estendem os temas em sessões de improvisação e longas jams instrumentais, que permitem destacar as capacidades de cada um dos músicos. Por essa razão, foram pouco mais de meia dúzia os temas apresentados. Fecharam com o maior dos seus sucessos “Wordless Chorus”, lançado em 2005, no álbum Z.

Este sábado, último dia de Primavera Sound Porto de 2023 prevê-se maior afluência. O cartaz anuncia: Blur, New Order, Halsey, Sparks, Yard Act, Wolf Manhattan, Unwound, Karate, Israel Fernández y Diego del Morao, Unsafe Space Garden, Isa Leen, Nation Of Language, Yves Tumor, Marina Herlop, Pup, Flowerovlove, Julia Holter, OFF!, Drain Gang, Chima Isaaro, Isabella Lovestory, Verraco, Nick León, Daphni.

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