O Sol Da Caparica Arrancou Com Os Ritmos Quentes De C4, David Fonseca E Deolinda

Reportagem de Tânia Fernandes (texto) e António Silva (fotografia)

Há mais cor, este ano, no recinto do Festival o Sol da Caparica. A nova decoração convida a descobrir as outras artes em atividade no Parque Urbano de Santo António, entre concertos de grandes nomes da música lusófona nos dois palcos. C4 fundiu em pares os visitantes do festival. Antes dele, Orelha Negra, o Rappa, David Fonseca e Deolinda tornaram a noite ainda mais quente.

As famílias são, mais uma vez, o público do festival, e chegam em modo numeroso, numa combinação de gerações.

Aline Frazão combinou as suas melodias com a temperatura, dando um ambiente quente a quem chegava ao recinto. Voz doce, postura tranquila e segura, fez soar as cordas da guitarra com precisão. Uma espécie de saudação que se traduz em palavras, depois de introduzida a música : “Boa tarde, estão confortáveis? É muito bom estar aqui.” Aline Frazão é uma das novas vozes de Angola. Conta já com três registos editados. Insular é o mais recente, editado o ano passado. “O Que ela quer” e “Crónica de um (des)encontro ” foram alguns dos temas que tocou.

O percurso continua na direção do palco principal e são os Deolinda quem abre, com chave de ouro. Tempo de atuação disponível demasiado curto para o já extenso percurso desta banda portuguesa cujos êxitos são cantados por todos. Abrem com temas do mais recente álbum Outras Histórias: “Bote Furado”, “Manta para Dois” e “Corzinha de Verão” com alguns regressos incontornáveis ao passado como “Seja Agora”.

Aos primeiros acordes, o público reconhece “Fado Toninho” e Ana Bacalhau deixa-os seguir com o coro, comentando depois agradecida “Fortíssimo, Caparica!”. Segue-se “Nunca é Tarde”, gravado com a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, mas que “na impossibilidade de nos acompanharem nesta digressão, trouxemos os sopros naquela caixinha” explica a vocalista dos Deolinda. Para o fim ficou “Musiquinha”, “Movimento Perpétuo Associativo” e “Um Contra o Outro”, para além de muita vontade de que o concerto continuasse… O público fica a pedir mais, mas os Deolinda têm mesmo de sair para dar lugar a David Fonseca.

No centro de recinto e já sem a força do sol, há quem se detenha na praça dedicada às atividades radicais. Há demonstrações de Skate, mas também possibilidade de agendar aulas de surf ou outras modalidades similares. No grande mural de street art o writer Smile começa o trabalho que irá desenvolver ao longo dos dias em que decorre o festival. Neste primeiro dia, dá cor a um graffiti de C4, um dos artistas da noite.

Marta Ren, atuou no palco secundário e faz furor com uma combinação de soul e rock.

Outra das novidades desta edição é o palco dança. Localizado junto ao lounge da floresta, faz-se ouvir sempre que terminam os concertos no palco mais próximo e torna-se impossível não parar a admirar estes exímios bailarinos.  São várias as crews e estilos a passar por este espaço e por vezes, há curiosas combinações a subir ao palco, em simultâneo.

No palco principal, canta-se em português, por vezes em inglês, mas o artista é bem conhecido de todos: David Fonseca. A componente visual é uma das características deste cantor, que não só na forma como se apresenta, mas também nos adereços que dispõe em palco, faz a diferença. Trouxe o Futuro Eu o mais recente trabalho, em que voltou a cantar em português, e dele temas como “Chama-me que eu vou”, “Futuro Eu”. Mas trouxe também os antigos “Superstar” e “Someone That Cannot Love”. De David, em memória de David, uma bela recordação que fez o público vibrar com “Let’s dance”.

Depois, em modo de estreia, e com direito a ensaio, tocou também o novo “Ela Gosta de Mim Assim”. Nova incursão na música portuguesa para recordar outro grande autor: António Variações com “O Corpo é Que Paga”. Já em reta final, e a começar com um telefone (dos bem antigos na mão) cruza o clássico “Video Killed The Radio Star” com o seu “The 80’s” Um bom concerto, cheio de energia, ao qual não faltou um mergulho no público, de guitarra no ar. Encerrou com “What life is for” e deixou um adereço ao público: um paraquedas que foi passando por cima das cabeças, abraçando todos.

Do outro lado do recinto, o palco secundário é pequeno para acolher os numerosos seguidores de Valete. Uma das vozes do hip hop nacional, que vem dar o testemunho de viva voz sobre um crescimento turbulento “Os meus amigos estavam na rua eu estava em casa a escrever rimas. O hip hop salvou a minha vida”.

O Rappa, no palco maior, marca bom ritmo, frente à multidão. A banda brasileira,  formada em 1993 no Rio de Janeiro, mistura reggae, rock e rap e parece agradar a quem se vai tomando o seu lugar no relvado. E antes de “Pescador de Ilusões”, o Rappa convida todos a ouvir o último disco, gravado em Recife, e recentemente editado em Portugal.

Mão Morta, não sendo uma banda de massas, concentra fiéis seguidores. Adolfo Luxúria Canibal não estava para conversas, mas não se poupa a poses e encenação com os músicos que o acompanham. A voz cavernosa e a poesia lúgubre fazem-se ouvir. Cambaleia, estica o braço e não queremos ser vítimas do olhar que percorre o público. Quem assiste sente-se confortável, nesta casa de ambiente pesado e profundo mas há quem acompanhe as letras. “Irmã da Solidão”, “Pássaros a Esvoaçar” e “Berlim” foram alguns dos temas que se ouviram nesta passagem pelo Sol da Caparica, com direito ainda um tema de encore, “Véus Caídos”, ainda que não “Budapeste” como alguns pediam…

David Fonseca

No final da noite, fez-se a transição sonora mais aberrante de todo o festival, dos sons pesados de Mão Morta para o kizomba de C4. Muito mel, amor, braços no ar e a alegria de uma multidão que adere em força aos ritmos quentes do angolano C4 Pedro. Coro gigante para “Bo Tem Mel” e um longo concerto de embalar, que se esticou até “Tu És a Mulher”, “Vamos Ficar Por Aqui”. A noite fechou com a eletrónica de Rich & Mendes.

No segundo dia do Sol da Caparica, atuam The Gift (00h30), Áurea (23h15), Jorge Palma & Sérgio Godinho (22h00), Diogo Piçarra (21h00) e Cristina Branco & Mário laginha Trio (20h00), entre outros.

Ainda há bilhetes disponíveis.

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